Esta é a primeira parte de uma postagem especial sobre a geração de valor nos serviços contábeis de seu escritório de contabilidade. Nesta parte demonstraremos os pontos fracos que muitos contadores ignoram durante a formação dos preços das mensalidades de seus clientes e ainda por cima deixam de se empenhar. Eles esquecem que se tratarem seus serviços profissionais como produtos seus ganhos serão maiores. Vamos à matéria!
Escritório de contabilidade é empresa e precisa de planejamento
Sabemos
que o contador, assim como os administradores, é um ótimo
profissional para assessorar o cliente quando da abertura de sua
empresa e na formação se seus preços com base nos custos
tributários e de estoques. No entanto, quando o objeto do estudo e
trabalho é o próprio escritório é sabido que muitos deixam a
desejar. Não tem a mesma estima na formação dos preços dos
serviços como fazem com seus clientes mais valiosos, tampouco como
fariam em projetos de abertura de empresa ou consultorias.
Não é
preciso ir longe para verificar junto aos contadores que enxergam
seus serviços como um só: contábeis. Pronto, mais nada, mais
nenhum detalhamento. Não estaria na hora de pensar em seus serviços
como produtos, tal como fazem os bancos?
Falta de valorização dos serviços do escritório contábil
Vivemos
num país que até o término da década de noventa todos, sem
exceção, eram assombrados pela inflação. Dessa época as pessoas
aprenderam a fazer compras para o mês, uma vez que no início do
período a cesta básica estaria por um valor x, mas ao final estaria
muito maior.
A
contabilidade da época tinha um princípio para a atualização
monetária, para não deixar os relatórios defasados com o tempo. No
entanto, com a nova moeda em 1994 a inflação foi finalmente freada,
o princípio caiu e o contador deixou esse lado de se preocupar com
valores atuais para se dedicar à tributação. Com muita velocidade
as normas tributárias mudam, novas obrigações acessórias são
criadas a todo momento e o contador passou a trabalhar exclusivamente
para o Fisco.
Em função
de fatos históricos, principalmente, os contadores no Brasil não
têm, por tradição, o hábito de oferecer VALOR junto ao serviço
oferecido. O resultado disso são profissionais que perdem espaço no mercado quando as exigências aumentam, e incluo aqui tanto impostas pelo Governo quanto as expectativas do cliente, que sem assessoria fica a ver navios - isso quando não vê sua empresa afundar...
Afinal de contas, para os contadores “medianos”, para
que procurariam oferecer um serviço diferenciado ao cliente se todo
sujeito que entra no escritório contábil só quer saber mesmo de
contratar os serviços para ter a cabeça fresca. Parece que o que os
empresários querem é tocar os problemas com folha de pagamento e
apuração de tributos nas mãos dos outros. Ficam com aquela ideia
de “pago para não ter que pensar nisso, em vez disso, posso me
dedicar ao meu negócio”.
O contador
sai da faculdade, cheio de teorias e com muita vontade de as pôr em
prática mas o que vê são cenários em que o serviço de
contabilidade é exclusivamente burocrático, quase um despachante:
trabalha para apurar impostos, deixar a folha de pagamento em ordem e
guardar livros. É claro que há sempre o cliente que busca mais, mas
na maior parte o serviço que buscam é a resposta se ficam no lucro
presumido ou simples nacional.
Não
necessariamente por uma falha, mas basicamente por questões
históricas, como já dito. O cliente não está acostumado a
usufruir de todo o potencial de informações que a Ciência Contábil
pode oferecer e os contadores têm culpa nisso.
Antes e
durante o ato de produzir, qualquer organização deve exercer
constante acompanhamento sobre o valor que é gerado tanto para os
clientes quanto para os investidores, como explica Martin (2002):
Valor
para os clientes/usuários, que consiste no conjunto de benefícios,
atributos e características de desempenho, que a empresa oferece
através dos seus bens e/ou serviços, pelos quais os compradores,
após a devida avaliação, estão dispostos a pagar o preço de
mercado. E ao mesmo tempo: valor para os investidores/acionistas, que
aplicaram na empresa, compensando-os pelos riscos inerentes ao
empreendimento [MARTIN, 2002].
O mercado de trabalho na atualidade
Conforme
explica Philip Kotler:
A
prestação de serviços contábeis encontra-se classificada como
serviços profissionais, isto é, para a sua execução é necessária
a obtenção de registro prévio em conselho constituído para
regulamentação desta atividade. As empresas de serviços contábeis
devem adotar a estratégia para desenvolver suas atividades [KOTLER et al, 2002].
Vemos que
o profissional de contabilidade estuda muito para poder exercer o seu
cargo, mas ao chegar a um escritório de contabilidade parece que
tudo o que viu ou foi desnecessário ou não atende as necessidades
dos clientes. O sujeito monta o escritório, adquire a licença dos
programas, faz o registro, pagando as taxas e todas aquelas
obrigações para oficialização e coloca uma placa na porta com os
serviços:
-
Abertura e encerramento de empresas;
-
Emissão de declarações;
-
Legalização e documentação;
-
Auditoria de impostos;
-
DECORE;
-
Declaração de imposto de Renda;
-
Consulta SPC e SERASA;
-
Consultoria Fiscal e Contábil
-
Recursos Humanos
-
Transformação de empresas;
Serviços
As décadas
de inflação não foram muito amigáveis para os contadores, visto
que a velocidade da inflação era maior que a da conclusão dos
balanços contábeis e disso criou-se uma certa “tradição” por
cumprir obrigações em detrimento da oferta de qualidade e respeito
aos prazos. Para o contador contratado era melhor que o serviço
fosse rápido e entregue no prazo, e claro, entregue certo. E
adicionamos isso ao fato de que alíquotas de impostos são alteradas
constantemente, cada produto tem seu ICMS, se a empresa é de um ramo
pode ser Simples Nacional, se sor de outro, não pode etc. Tal dia é
prazo de entrega da DCTF, outro dia da RAIS, CAGED, tem que instalar
o programa da SEFIP, GEFIP, Conectividade Social, gerar certificado
digital para emitir documentos, o cliente cobrando uma CND, são
tantas obrigações que o que se viu na faculdade não tem
importância.
Resumindo,
naquele tempo de preços altos faltava tempo e por isso o serviço
tinha que ser o essencial, mas hoje, pouco mudou. Apesar do problema
da inflação estar de certa forma sanado (se esquecermos das crises
políticas), os contadores ainda levam muito tempo cumprindo
obrigações formais e adequando-se aos novos sistemas e processos
implantados pelo governo.
Recente
pesquisa com empresários do Brasil revelou que clientes tendem a
perceber pouco valor no serviço recebido pelos contadores:
-
67% das empresas não recebem nenhum tipo de relatório de seus contadores;
-
20% das empresas querem trocar de contador nos próximos 6 meses (20% aqui equivalem a 2 milhões de empresas);
Desses
números, podemos concluir que os escritórios que não estão
realizando um serviço bem-feito estão correndo um risco real de
perderem seus clientes, em breve. Mas porque pensamos isso? De acordo
com Peleias et al (2007):
O
Mercado de trabalho tem se modificado nos últimos anos, por várias
razões. O impacto da nova realidade sobre as profissões exigiu
mudanças em muitas áreas, algumas ainda em curso. Este cenário
obriga os profissionais a se aprimorarem e a buscarem a ampliação
de suas áreas de atuação. A profissão contábil em geral, e em
particular os escritórios de contabilidade e seus sócios estão
expostas a este processo de mudanças [PELEIAS et al, 2007].
Os
escritórios de contabilidade são suscetíveis as mudanças
contábeis, embora queiram, em alguns casos, deixar de lado. Por
exemplo, quando eu ainda estava na Universidade estudei sobre o SPED,
o programa do Governo Federal em digitalizar a escrituração fiscal
e contábil. Demorou um pouco mas no ano de 2014 as empresas optantes
pelo lucro presumido e que tenham auferido lucro contábil no ano de
2013 foram obrigadas (e depois desobrigadas) a apresentar a
escrituração digital (ECD). E com isso vemos uma situação: o que
aconteceu com aqueles maus contadores que tinham clientes de lucro
presumido com lucro retirado mas que em vez de escrituração
contábil fizeram apenas o Livro Caixa? É, deixaram de entregar a
ECD. E como foram desobrigadas, tudo bem. Mas após um mês foi a vez
da escrituração fiscal contábil (ECF), que trazia os dados da
extinta DIPJ e mais as informações da contabilidade. No próprio
programa é exigido os dados da ECD. E aí? Como fica? Onde buscar os
dados contábeis se a empresa só tem livro caixa?
Segundo
dados da NIBO (http://www.nibo.com.br/)
em seu artigo sobre como valorizar o serviço no escritório, “em
contrapartida, há 2 milhões de empresas que pretendem trocar de
contador nos próximos 6 meses, o que significa dizer que há
inúmeras oportunidades potenciais para escritórios que buscam
conquistar novos clientes”.
Em outras
palavras, o contador que deseja fazer parte do grupo de contadores
que têm como objetivo conquistar clientes agregando valor ao serviço
oferecido deve ter em sua mente que embora as obrigações do
governo sejam muitas, o fato de oferecer serviços de qualidade e com
diferencial o deixará em destaque frente aos concorrentes (de forma
ética, é claro) e seguindo algumas dicas propostas pela NIBO é bem
possível manter e conquistar mais clientes e, consequentemente,
aumentar seus rendimentos mensais.
Bibliografia
KOTLER, Philip; HAYES, Thomas; BLOOM, Paul N., Marketing de serviços
profissionais -- Estratégias inovadoras para impulsionar a sua
atividade, a sua imagem e seus lucros, 2002
MARTIN, Nilton Cano, Da contabilidade à controladoria: a evolução
necessária, jan./abr 2002
PELEIAS, Ivam Ricardo; HERNANDES, Danieli Cristina Ramos;
GARCIA, Mauro Neves; SILVA, Dirceu da, Marketing Contábil nos
Escritórios de Contabilidade do Estado de São Paulo, jan./abr.
2007
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