Custeio ABC para indústria de bicicletas
O presente
exercício foi apresentado por uma leitora que estuda no Curso de
Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Paulista – UNIP
curso à distância. A leitora considerou que seria interessante para
o nosso Blog e por esta razão o estamos resolvendo.
A
Indústria e Comércio de Bicicletas London Ltda. está no mercado há
mais de 10 anos, exportando seus produtos para diversos países,
apesar de também atender o mercado interno. Considerando-se que hoje
a sustentabilidade passou a ser uma necessidade e não uma opção,
incentivar o uso de bicicletas passou a ser literalmente o
“carro-chefe” da London, e a Sra. Glória, por ser a primeira na
linha de sucessória após o falecimento de seu pai, o Sr Júlio,
fundador da empresa, assumiu a presidência.
Após uma
reunião de rotina com a sua Diretoria, Sra. Glória entende que está
no momento de fazer algumas modificações na forma de apurar o custo
industrial e, para tanto, contrata a Qually Cost, uma conceituada
empresa de consultoria na área de custo industrial.
A Sra.
Glória conheceu a Sra. Sabrina, sócia-diretora da Qually Cost, no
último Congresso Brasileiro de Custos (o próximo ocorrerá em
novembro de 2015, em Foz do Iguaçu/PR), onde foram apresentados
diversos artigos científicos sobre a formação e controle do custo
industrial abordando aspectos gerenciais, embora seja de conhecimento
da Sra. Glória que, de acordo com a legislação brasileira, o único
método aceito para custear a formação dos produtos é o de
absorção. Ela entende a necessidade de também utilizar um método
gerencial e o que chamou a sua atenção foi o método do “Custeio
Baseado em Atividades”. Após uma conversa com a Sra. Sabrina,
contratou este serviço de consultoria.
Após uma
reunião com a Sra. Matilde, controller da Indústria e
Comércio de Bicicletas London Ltda., e com alguns assessores da
Controladoria e a Sra. Sabrina, a Sra. Glória solicita uma simulação
da formação do custo das Atividades do Departamento de Controle de
Qualidade e, para tanto, a Sra. Matilde fornece os seguintes dados:
Custo do Departamento
em R$:
|
|
Departamento |
R$
|
Salário |
R$ 120.000,00 |
Aluguel |
R$ 45.000,00 |
Depreciação |
R$ 20.000,00 |
Total |
R$ 185.000,00 |
Tabela
1: Custos dos departamentos.
Durante a
reunião e com as orientações da Sra. Sabrina, chegaram à
conclusão de que as atividades relevantes neste Departamento são:
-
testar produtos;
-
inspecionar produtos.
A Sra.
Sabrina depende de mais informações para a simulação do custo do
Departamento Controle de Qualidade e, assim, a Sra. Matilde, em posse
da planilha de custos, apresenta as seguintes informações:
Os
direcionadores de recursos selecionados foram os seguintes:
Atividades
|
Testar produtos
|
Inspecionar produtos
|
Salário, alocação direta |
R$ 70.000,00 |
R$ 50.000,00 |
Aluguel, espaço ocupado |
100 m2 |
70 m2 |
Depreciação, equipamentos |
R$ 10.000,00 |
R$ 10.000,00 |
Tabela
2: Direcionadores das atividades.
Após
custear cada atividade – testar produtos e inspecionar produtos –
efetuar o custo dos produtos A e B, sabendo-se que os gastos com
matérias-primas foram, respectivamente, de R$ 40.115,00 e R$
42.227,00, e que foram selecionados os seguintes direcionadores de
atividade:
Direcionadores
|
Produto A
|
Produto B
|
Total
|
No de testes |
95
|
48
|
143
|
No de lotes inspecionados |
60
|
40
|
100
|
Tabela
3: Direcionadores dos produtos.
Após
apurar o custo de cada produto – A e B – elaborar um breve
relatório sobre o número de testes efetuados em cada produto,
informando o que a empresa deveria fazer para reduzir esse número e
qual o impacto dessa decisão na formação do custo de cada produto.
Antes de
começar a resolução vamos expôr os dados fornecidos pelo
enunciado, de forma a catalogar os dados e assim estruturar a sua
resolução, seguindo assim a chave para se dar início ao processo
de criação do custeio ABC:
-
IDENTIFICAR OS PROCESSOS
-
LISTAR AS ATIVIDADES DE CADA PROCESSO
-
ATRIBUIR OS RECURSOS ($) À CADA ATIVIDADE (Salários, E. Elétrica, Depreciação etc)
-
DIRECIONAR AS ATIVIDADES AOS PRODUTOS
-
CÁLCULO E ANÁLISE DOS CUSTOS DOS PRODUTOS
Conforme
os dados do enunciado temos as seguintes situações:
-
São três fontes de custos distintas para a fabricação dos produtos A e B (salário de R$ 120.000,00, aluguel de R$ 45.000,00 e depreciação, de R$ 20.000,00);
-
São duas atividades desempenhadas (o teste e a inspeção dos produtos);
-
São definidos os custos de cada atividade (“testar” consome R$ 70.000,00 de salários, usa 100 metros quadrados e traz depreciação de R$ 10.000,00; ao passo que “inspecionar”, consome R$ 50.000,00 de salários, 70 metros quadrados de área de uso e também deprecia R$ 10.000,00);
-
São 143 testes e 100 inspeções, tendo um número definido para cada produto;
-
Sabemos que os custos diretos com matérias-primas foram para os produtos A e B, respectivamente, de R$ 40.115,00 e R$ 42.227,00
-
Sabemos que o gasto total com aluguel é de R$ 45.000,00 e que somando as duas áreas ocupadas temos um total de 170 metros quadrados, distribuídos entre 100 e 70 metros. Resolveremos da seguinte maneira:
Custo Total
|
R$ 45.000,00
|
(/) área total
|
170
|
(=) custo metro
|
R$ 264,71
|
Testar
|
|
para 100 m²
|
R$ 26.470,59
|
Inspecionar
|
|
para 70 m²
|
R$ 18.529,41
|
Custo Total
|
R$ 45.000,00
|
Tabela
4: Conversão do custo de aluguel de metros quadrados para reais.
A primeira
ação a ser efetuada para a resolução do exercício é o rateio
das atividades de Testar e Inspecionar o produto aos produtos aos
produtos criados pela empresa, levando-se em conta os números de
testes feitos para cada atividade de controle:
Direcionadores
|
Testar
|
%
|
Produto A
|
95
|
66,43%
|
Produto B
|
48
|
33,57%
|
|
143
|
100,00%
|
|
|
|
|
Inspecionar
|
%
|
Produto A
|
60
|
60,00%
|
Produto B
|
40
|
40,00%
|
|
100
|
100,00%
|
Tabela
5: Rateio inicial dos processos de controle aos produtos.
Por este
método demonstramos que o produto A demanda um número maior de
processos do que o produto B, o que em outras palavras, este acaba
consumindo mais tempo no departamento de controle que o produto B.
A tarefa
seguinte consta na delimitação do custo com o aluguel. Sabemos que
a empresa gasta R$ 45.000,00 com o aluguel para usar o espaço em que
efetua o controle de qualidade dos produtos A e B, mas o uso não é
igualitário, sendo que uma atividade (testes) consome mais espaço
físico do que outra (inspeções). Para resolver este problema
fazemos uso do rateio segundo os usos dos locais físicos pelo metro
quadrado.
Assim
sendo, é usada uma regra de três simples, entendendo como R$ 100% o
total de testes e os R$ 45.000,00 gastos com o aluguel, e as
variáveis como os direcionadores de vezes em que os processos de
testar e inspecionar ocorrem. Logo tem-se que:
Aluguel, espaço ocupado
|
m²
|
%
|
Testar produtos
|
100
|
58,82%
|
Inspecionar produtos
|
70
|
41,18%
|
|
170
|
100,00%
|
|
|
|
Atividades
|
|
Proporcional
|
Testar produtos
|
R$ 26.470,59
|
58,82%
|
Inspecionar produtos
|
R$ 18.529,41
|
41,18%
|
Valor apresentado
|
R$ 45.000,00
|
100,00%
|
Tabela
6: Rateio do uso físico do local baseado nos processos de controle.
Pelo
exposto ora calculado, nota-se que mais uma vez o processo de
fabricação demanda uma quantidade maio de processos referentes aos
testes do que às inspeções, que em termos de rateio para o custo
total do aluguel significa mais da metade do gasto, em R$ 26.470,59,
ou 58,82%.
E com os
resultados reais dos gastos com o aluguel é possível o
estabelecimento das importâncias devidas à cada uma das três
fontes de custos no departamento de controle de qualidade:
DEPARTAMENTO DE QUALIDADE
|
Testar
|
Inspecionar
|
Total
|
Salário, alocação direta
|
R$ 70.000,00
|
R$ 50.000,00
|
R$ 120.000,00
|
Aluguel, espaço ocupado
|
R$ 26.470,59
|
R$ 18.529,41
|
R$ 45.000,00
|
Depreciação, equipamentos
|
R$ 10.000,00
|
R$ 10.000,00
|
R$ 20.000,00
|
Soma do departamento de qualidade
|
R$ 106.470,59
|
R$ 78.529,41
|
R$ 185.000,00
|
Tabela
7: Resumo dos departamentos.
Agora,
apenas com esses dados já é possível comprovar mais uma vez que a
atividade de testar os produtos para testar sua qualidade ainda é
superior ao processo de inspeções, representando simplesmente
57,55% do total. Verifica-se também que entre os custos do
departamento, a maior discrepância entre os processos de testar e
inspecionar encontra-se no aluguel, em que os testes representam
58,82% das atividades realizadas.
A etapa
seguinte consiste da alocação dos custos indiretos (isto é,
aqueles que só podem ser distribuídos por muio de um rateio) aos
custos dos produtos A e B, segundo, é claro, seus direcionadores
apresentados anteriormente.
Cabe aqui
apenas uma justificativa para o uso do rateio dos custos indiretos
para o custeio proposto pelo método do ABC:
De
forma diferente, o método de custeio ABC é estruturado para
apropriar os custos indiretos às atividades realizadas pelos
departamentos auxiliares e produtivos. Isto porque a idéia central
do método de custeio ABC é de que são as atividades que consomem
recursos. Portanto, os custos indiretos devem ser inicialmente
apropriados às atividades e, a seguir, aos produtos ou serviços
conforme as atividades por eles requeridas [BACIC et al, 2011]1.
Assim,
vemos mais uma vez que os testes feitos nos produtos demandam a maior
parte dos processos no departamento de controle de qualidade. Também
verifica-se no quadro explicativo a seguir que, o produto A demanda
uma quantidade maior de processos de controle, do mesmo modo que foi
visto no quadro do cálculo do rateio inicial.
Alocação Custo aos Produtos - INDIRETO
|
Testar
|
Inspecionar
|
Total
|
|
|
|
|
Rateio Produto A
|
66,43%
|
60,00%
|
|
Soma do departamento de qualidade
|
R$ 106.470,59
|
R$ 78.529,41
|
R$ 185.000,00
|
Alocação Custo ao Produto A
|
R$ 70.732,21
|
R$ 47.117,65
|
R$ 117.849,86
|
|
|
|
|
Rateio Produto B
|
33,57%
|
40,00%
|
|
Soma do departamento de qualidade
|
R$ 106.470,59
|
R$ 78.529,41
|
R$ 185.000,00
|
Alocação Custo ao Produto B
|
R$ 35.738,38
|
R$ 31.411,76
|
R$ 67.150,14
|
|
|
|
|
Totais do rateio aos produtos (%)
|
100,00%
|
100,00%
|
100,00%
|
Totais do rateio aos produtos (R$)
|
R$ 106.470,59
|
R$ 78.529,41
|
R$ 185.000,00
|
Tabela
8: Alocação dos custos indiretos aos produtos.
Como está
expresso no quadro, os testes no produto B são efetuados apenas
metade das vezes que ocorrem no produto A. Já para a inspeção, a
diferença não é tão grande, embora ainda aconteça, seguindo o
que vem sendo visto deste as primeiras demonstrações, deste
exercício.
Após os
rateios dos custos indiretos resta a alocação dos custos aplicados
e distribuídos diretamente aos produtos A e B, afinal, é muito mais
fácil saber para a empresa o quanto que cada um de seus produtos
consome de materiais para serem fabricados.
Com
relação aos custos diretos e sua diferenciação dos indiretos
podemos citar que:
Custeio
Direto: Se os dois sistemas anteriores de apuração de custos se
preocupam com a distribuição dos custos indiretos, este aloca
apenas os custos diretos, ficando, assim, os custos indiretos em uma
conta que precisa ser coberta pela sobra das receitas menos os custos
diretos. Custos Diretos e Indiretos: O custo direto é aquele que
pode ser identificado com o objeto de custo de uma maneira
economicamente viável. Já o custo indireto é aquele que não pode
ser identificado de uma maneira economicamente viável [ROSADAS & MACEDO, 2005]2.
Analisando-se
os custos diretos verifica-se que é o único momento em que o
produto B consome mais recursos que o produto A e ainda mais, os
processos com os testes são menos nas somas dos produto AB (de R$
40.959,00 para R$ 40.823,92).
Alocação CMP aos Produtos – DIRETO
|
Testar
|
Inspecionar
|
Total
|
|
|
|
|
Rateio Produto A
|
66,43%
|
60,00%
|
|
Matéria Prima Produto A
|
R$ 40.115,00
|
R$ 40.115,00
|
R$ 80.230,00
|
Alocação CMP ao Produto A
|
R$ 26.649,83
|
R$ 24.069,00
|
R$ 50.718,83
|
|
|
|
|
Rateio Produto B
|
33,57%
|
40,00%
|
|
Matéria Prima Produto B
|
R$ 42.227,00
|
R$ 42.227,00
|
R$ 84.454,00
|
Alocação CMP ao Produto B
|
R$ 14.174,10
|
R$ 16.890,80
|
R$ 31.064,90
|
|
|
|
|
Totais do rateio CMP aos produtos (%)
|
100,00%
|
100,00%
|
100,00%
|
Totais do rateio CMP aos produtos (R$)
|
R$ 40.823,92
|
R$ 40.959,80
|
R$ 81.783,72
|
Tabela
9: Alocação aos produtos dos custos diretos com matéria prima.
Sabendo
que sendo estes custos diretos aos produtos significa que não é
possível reduzir estes gastos, diferentemente do que com o que
ocorre com os indiretos. Por exemplo, em os demais casos o produto A
demonstrou ser mais caro para verificar sua qualidade do que o
produto B, mas eram custos que poderiam ser diminuído, seja
reduzindo a área ocupada para os testes, seja diminuindo o número
destes, caso haja essa possibilidade.
A
diminuição dos custos diretos do produto B apenas poderiam ser
realidade se forem de fato cortadas (o que no caso significa diminuir
as matérias-primas), o que indubitavelmente resultaria na perda de
qualidade ou até na impossibilidade de produção. No entanto, uma
hipótese aceitável seria a eliminação de desperdícios com a
matéria-prima, o que vai além dos dados fornecidos no enunciado do
exercício.
Por fim,
após todos os cálculos chegamos aos resultados finais, com a
demonstração resumida conclusiva dos custos das atividades do
departamento de controle de qualidade dos produtos A e B e, como já
vinha sendo ensaiado, o produto á consome mais processos que o
produto B, tanto nos custos diretos quanto indiretos. A saída aqui
seria mesmo a redução dos processos de testes neste produto, desde
que isso não acabe comprometendo a sua qualidade final.
A saber:
Produtos
|
Custo Indireto
|
Custo Direto
|
Total
|
Produto A
|
R$ 117.849,86
|
R$ 50.718,83
|
R$ 168.568,68
|
Produto B
|
R$ 67.150,14
|
R$ 31.064,90
|
R$ 98.215,04
|
Totais dos custos
|
R$ 185.000,00
|
R$ 81.783,72
|
R$ 266.783,72
|
Tabela
10: Resultado final.
Apenas
para efeito de comparação, foram refeitos todos os cálculos,
apenas substituindo os direcionadores, deixando os de testes e
inspeção com o mesmos
números (60 e 60 para o produto A e 40 e 40 para o produto B, e
70-70 para o uso do território).
Os resultados foram estes:
Produtos
|
Custo Indireto
|
Custo Direto
|
Total
|
Produto A
|
R$ 111.000,00
|
R$ 48.138,00
|
R$ 159.138,00
|
Produto B
|
R$ 74.000,00
|
R$ 33.781,60
|
R$ 107.781,60
|
Totais dos custos
|
R$ 185.000,00
|
R$ 81.919,60
|
R$ 266.919,60
|
Tabela
11: Resultados alternativos comparativos.
Como se
nota, não ocorre muita diferença, em razão do consumo maior de
recursos com salários (custos indiretos). Uma prova disso é que os
custos diretos diminuíram as distâncias entre si.
1BACIC,
Miguel Juan; MEGLIORINI, Evandir; OLIVEIRA, Elizabeth Catro Maurenza
de e Yomura, Nobuya. Manual de técnicas e práticas de gestão
estratégica de custos nas pequenas e médias empresas. São
Paulo: CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO ESTADO DE SÃO PAULO,
CRC-SP, 2011. 106 p.
2ROSADAS,
Leandro Azevedo da Silva; MACEDO, Marcelo Álvaro da Silva. A
visão do gerenciamento de custos em empresas de saúde.
Revista da Universidade Rural, jan./dez 2005, v. 27, n. 1-2, p.
15-20.
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