A Contabilidade Social para a Governança Corporativa
Ao longo
dos tempos o ser humano vem utilizando a sua inteligência para
suprir suas necessidades fisiológicas, fazendo uso de todos os
recursos disponibilizados ao seu redor. Desenvolveu técnicas e
ramificou o conhecimento em tantas áreas possíveis e com tamanha
velocidade que acabou esquecendo de suas raízes. Com a proliferação
da ciência e da constante busca por riquezas e retorno financeiro a
preocupação com a sociedade passou a ter uma parcela reduzida de
importância entre as opções do sistema capitalista. Neste cenário,
“a busca pelo lucro dos grandes industriários ultrapassa as
barreiras do que se deve ou não fazer, muitas vezes tendo como
exemplo a exploração da mão de obra” [PEDRO e CÁCERES, 1982]1.
Porém,
freando esta busca desnorteada pelo lucro as custas de tudo, há
aqueles que param para pensar no que querem, onde querem chegar e o
que fazem para atingir tal meta. Dessa forma, “a resposta social
das empresas é o resultado de mudança de enfoque que está
ocorrendo no pensamento das sociedades [SILVA, 1998]2.
Os empresários percebem que o lucro ainda é o objetivo, mas a forma
como buscar financiamentos, capital e como se apresentar é o fator
decisivo para chegar onde quer.
A empresa
que busca crescimentos e desenvolvimentos e que para isso lança suas
ações (parte de seu patrimônio) no mercado de capitais deve antes
pensar em como ela – a empresa – é vista e se para o ponto de
vista do cliente, é uma boa opção de investimento. Fazendo uma
analogia, é possível relacionar a empresa que busca recursos
financeiros com o indivíduo, pessoa física que vai ao banco
solicitar um empréstimo. Tanto os investidores e bancos apenas vão
fornecer o capital se tiverem garantias de que receberão o retorno.
Da mesma forma, o fornecedor não vai confiar numa empresa com
reputação de ser uma constante devedora inadimplente, da mesma
maneira que o banco não entregará ao cliente sabendo que esta
empresa tem um mau histórico financeiro.
Justamente
com o desenvolvimento do mercado de capitais a mentalidade dos
grandes administradores também se desenvolveu. Para que a empresa
consiga obter recursos deve se adequar ao que os stakeholders estão
procurando. Logo, devem prover-se de políticas internas,
demonstrações, práticas operacionais, administrativas e de
alta responsabilidade social. São conceitos da governança
corporativa aplicados à Contabilidade Social.
Nova forma de trabalhar
Pela
Governança Corporativa as empresas de capital aberto mostram-se
viáveis para todas as partes interessadas e uma vez que haja
procura, o capital obtido tende a aumentar para novos investimentos.
Consequentemente, esse aumento de demanda possibilita uma maior
distribuição de renda a uma parcela maior da sociedade, destacando
um pouco a questão da classe social.
Empresa
que adere a este estilo de nova administração (ainda mais sob o
ponto de vista ambiental) ganha credibilidade, competitividade e
espaço no mercado, que é cada vez mais globalizado. Temos que:
Empresas
poluidoras passaram a ser punidas e a sociedade passou a considerar
melhor aquelas que praticam atos que ajudam a melhorar os índices
sociais e ambientais. Dessa forma, empresas que conseguem manter suas
operações de forma que degrade o mínimo possível o meio ambiente
e que se preocupe com o desenvolvimento social são as que possuem
responsabilidade social [CORRÊA, 2010]3.
Em
contrapartida, não é fácil mudar toda a sistemática
organizacional da entidade e aderir-se a um modelo que consiste em
comprometer-se com a confiança do investidor a tal ponto que
tornou-se tão transparente até ser visto e analisado pelos
concorrentes, dando-lhes exatamente o que eles querem.
E juntando
ao ideal das boas práticas de governança corporativa está o Novo
Mercado, fator motivador para a expansão das empresas de capital
aberto, com seu conjunto de regras societárias rígidas e que
influenciam na economia nacional com novos investimentos. É esse um
dos aspectos que direciona o presente estudo, que tem por proposta
correlacionar características das empresas atuantes do estilo novo
de corporação com seus resultados e retornos à sociedade, dentro
do novo mercado brasileiro de capitais.
O novo mercado
Para
entender o funcionamento de governança corporativa dentro da
companhia deve-se antes de tudo compreender o seu conceito. E usamos
para tanto alguns pensamentos e exemplo.
Inicialmente
devemos demonstrara as diferenças entre as formas existentes de
governança corporativa, uma das raízes do novo mercado:
No
trabalho intitulado Governança Empresarial publicado em 2004, a
International Federation of Accountants (IFAC) aponta para a
existência de duas formas de accountability: (1) Accountability
exógena, que decorre da necessidade de o Conselho de Administração
realizar prestação de contas (evidenciação) à Assembléia Geral
Ordinária dos acionistas e stakeholders. Essa forma de quitação de
accountability tem como base técnica a atividade de contabilização
(bookeeping) sob a responsabilidade legal e técnica do contador,
visando a demonstrar a conformidade da empresa às leis que regulam
suas atividades e (2) Accountability endógena, direcionada pela
necessidade de os dirigentes da empresa realizarem a prestação de
contas (evidenciação) da eficiência e eficácia de seu plano
estratégico de negócios perante o seu Conselho de Administração.
Essa forma de quitação de accountability é realizada com base na
atividade de Contabilidade (accounting) da empresa, sob a
responsabilidade técnica de seus contadores gerenciais ou
controllers, capacitados a interpretar e comunicar a todos os
gestores de negócio da empresa e seus stakeholders os riscos
associados aos fenômenos direcionadores do desempenho da empresa e
seus administradores, com especial destaque à estimativa dos fluxos
de caixa de futuros negócios [NAKAGAWA, 2007]4.
Conforme
Lodi (2000, p. 17) a “governança é uma ideia capital e de extrema
atualidade. Sem a seriedade necessária, nosso país dificilmente
aumentará a sua credibilidade no cenário internacional”. Conforme
este entendimento, a empresa que busca investimentos internacionais a
menor taxa de juros só obterá êxito em sua procura caso mude a sua
postura de gestão. Não é estranho essa conclusão se pensarmos no
número de investidores em mercados externos temerosos no Brasil haja
visto o nosso elevado custo (taxas altas).
Podemos
concluir que a Governança Corporativa vem antes do retorno na visão
do investidor? A falta de desenvolvimento econômico e liquidez das
companhias de capital aberto seriam os grandes motivos pela busca no
mercado externo? Segundo Gabriel Srour, “a falta de transparência
das firmas e a sua conduta nem sempre correta com os acionistas
minoritários vêm sendo constantemente apontadas como origens para o
mau funcionamento do mercado acionário, acarretando graves
consequências para a eficiência da economia como um todo. Bons
projetos deixam de ser financiados quando a empresa não se
compromete com a proteção dos interesses de seus investidores”.
Puxando
esse ideal, pode-se afirmar que para aqui se investir deve o
investidor procurar algo que lhe garante retorno favorável e com
segurança. Em função disso os órgãos reguladores, cada vez mais
pressionam as empresas a prestar contas – o chamado accountability.
Por esta razão a antiga bolsa de valores de São Paulo (Bovespa)
criou o Novo Mercado, onde apenas participariam os papéis de
empresas que aderissem às melhores regras de proteção aos
acionistas minoritários e com maior transparência em suas contas.
Para que
haja governança corporativa nesta companhia, conforme Armando
Castelar Pinheiro, em 2004, há a necessidade de haver informações
disponíveis para que credores e investidores possam avaliar
corretamente o risco da empresa, distribuição justa de direitos
entre o acionista controlador, de um lado, e de credores e acionistas
minoritários do outro, além de adequada inspeção (enforcement)
das regras de disponibilização de informações.
E a Governança Corporativa nisso?
Mas o que
seria a governança corporativa? Conforme Paxon e Wood (2001, p. 128)
a expressão refere-se ás regras, procedimentos e administração
dos contratos de uma empresa com seus acionistas, credores,
empregados, fornecedores, clientes e autoridades governamentais.
Contudo, Grossman e Host (1986) apontam que a eficácia desses
contratos em bom funcionamento do mercado de capitais e da proteção
aos acionistas depende da rigidez e controle da legislação. Uma
fraca legislação não vai proteger o acionista ou investidor de que
veja seu capital investido em ativos ruins. De fato, o Instituto
Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC – estabelece a
referida questão como um sistema pelo qual as sociedades são
dirigidas e monitoradas, envolvendo a empresa com os investidores,
visando aumentar o valor da entidade, facilitar seu acesso ao capital
(recursos) e contribuir para a sua perenidade.
1PEDRO,
Antônio; CÁCERES, Florival. História
Geral. 2. ed. São paulo: Moderna, 1982.
2SILVA,
Cristian Gomes da. Dislosure de informações relativas ao
Balanço Social e a dimensão socioeconômica da Ciência Contábil:
a vez dos contadores da aldeia. Revista de Contabilidade do CRC-SP,
ano II, n. 6, p. 30-40, nov./1998.
3CORRÊA,
Helena Guilhermina Bruxel. A utilização do Balanço Social como
instrumento de evidenciação de aspectos socioambientais de
empresas de grande porte no Rio Grande do Sul de 2007 a 2009: estudo
de caso de Alberto Pasqualini – REPAF S/A. 30. f. TCC (Graduação
em Ciências Contábeis - Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, 2010.
4NAKAGAWA,
Masayuki. Accountability: a razão de ser da contabilidade. In:
Revista Contabilidade & Finanças, mai./ago 2007, v. 18, n. 44.
Nenhum comentário:
Postar um comentário