segunda-feira, 18 de abril de 2016

Ciclos operacionais e administração dos fluxos de caixa



        Ciclos operacionais, regimes e fluxos

O ciclo operacional refere-se a todas as atividades da empresa, compreendendo todo o ciclo operacional – da compra da matéria-prima até o recebimento -, o ciclo econômico – da compra da matéria-prima até as vendas – e o ciclo financeiro – que vai do primeiro desembolso até o recebimento efetivo. Logo, todo o conjunto de atividades que começam e antes de chegarem ao fim, outros ciclos já foi iniciado compõem o giro funcional da empresa para que ela sobreviva. Divide-se em atividades econômicas e financeiras. Os ciclos operacionais influenciam no curto prazo, pois o ciclo operacional é curto prazo e acima dele, longo prazo. Os ciclos são estes:
  • Ciclo operacional: inicia-se com a compra da matéria-prima e encerra-se com o recebimento das vendas. Representa a união do ciclo econômico ao financeiro.
  • Ciclo econômico (ou de competência): inicia-se com a compra da matéria-prima e encerra-se com as vendas. Normalmente começa e termina antes do ciclo financeiro e demonstra as informações na DRE.
  • Ciclo financeiro: inicia-se com o primeiro desembolso e encerra-se com o recebimento.
O ciclo de caixa é o ciclo financeiro, que compreende o período de entradas e de saídas de recursos financeiros. Ou seja, vai do primeiro desembolso ao recebimento efetivo e utiliza-se do fluxo de caixa (em vez de uma DRE, que em vez de entradas e saídas trabalha com despesas e receitas).
Vale lembrar que o prazo ou ciclo empresarial de uma empresa, no que tange a curto ou longo prazo, depende exclusivamente da atividade principal da empresa. Por exemplo, empresas que trabalham construindo navios levam em média de três a cinco anos para encerrar um ciclo operacional, e para tanto, podem tratar este período como sendo de curto prazo.


      Capital de giro, o capital próprio e o capital circulante líquido

Os recursos das empresas são aplicados em ativos fixos (grupo do permanente) e ativos correntes. As contas do caixa, bancos, duplicatas e estoques (todo o ativo circulante) pertencem às contas do capital de giro.
O Capital de giro é o correspondente ao capital circulante líquido (CCL), que por sua vez representa o que sobra quando se retira o passivo circulante do ativo circulante. O capital circulante líquido é o valor real positivo da diferença de AC – PC. É verdadeiramente a fonte de recursos disponíveis na empresa para suprir suas necessidades operacionais.
São os recursos da empresa que são aplicados em ativos fixos e todo o ativo circulante. É o investimento de curto prazo para que a empresa supra suas necessidades operacionais e por tantas mudanças que sofre (contingências) sofre relação direta com as vendas e por ser de curto prazo, custa mais (por ser mais difícil de administrar).
Na Lei das S.A’s, o capital de curto prazo se realiza até um ano, para sustentar o nível de operações da empresa, correspondente ao ciclo operacional. O dinheiro é para sustentar um conjunto de atividades da organização, tais como o fato de ao dar prazo para o cliente, a compra da matéria-prima, todas as operações até o recebimento ou reembolso dessas operações, quando enfim acaba o ciclo e entra o dinheiro.
O capital de giro a ser utilizado pelas empresas tem as seguintes características:
  • Sofre mais alterações a todo o momento. O volume do capital de giro é sempre aumentado, diferentemente do capital fixo, em que o valor é maior e leva um tempo a mais para ser acrescido. O capital de giro muda de acordo com as operações, logo, quanto maior as movimentações e atividades da empresa, também serão maiores o capital de giro da entidade.
  • O capital de giro tem uma relação direta com as vendas. Isto é, se o volume de vendas aumentarem, o capital de giro também aumenta.
  • Apresenta característica de urgência. Na empresa sempre existe algo que foge ao planejamento e para isso, cria-se a reserva. Contudo, a reserva não pode ter valor muito alto, uma vez que isso significa dinheiro parado. São exemplos desse problema inesperado as chuvas intensas que podem vir a danificar o estoque ou o galpão, estragos no prédio entre outros. O permanente não apresenta esta característica de urgência.
  • Custos elevados. Apresenta financiamento mais caro, pois é mais difícil de ser administrado, sendo que de uma hora para outra a empresa pode precisar de mais recursos e carecer de novo financiamento.
  • Riscos maiores. Ocorre risco de falta de estoque suficiente (como a falta de produtos ou de embalagens para atender a produção, por exemplo) e falta de liquidez (quando a cliente não paga), que se ocorrer em um momento em que haja pouco capital de giro a empresa pode acabar ficando paralisada temporariamente.
  • Maior flexibilidade. O capital de giro sempre acompanha as ondulações das operações: quanto mais vende, mais capital de giro.
  • Planejamento de curto prazo. A tendência de todos os investimentos é de aumentarem. À medida que o tempo transcorre, a empresa precisa de mais máquinas, recursos, materiais e aplica muito destes para obter o retorno desejado em longo prazo.
Podemos sintetizá-lo da seguinte forma: Capital de giro deve ser de curto prazo, logo, é um recurso que existe para ser utilizado no dia a dia. São aplicações de capital de giro as compras para o estoque, os gastos involuntários, a sobrevivência do período em que a empresa efetua venda a prazo até o recebimento para o pagamento dos fornecedores e o dinheiro que tem em mãos no momento para a tomada de decisões mais rápidas. O capital de giro cresce com o crescimento das operações e com o dia a dia, mês a mês e isso é natural da empresa. Há diferentes formas de se aumentar o capital de giro.
Uma delas é ao aumentar o prazo de pagamento de um cliente que sabidamente para suas contas em dia. A empresa ao fazer isso fica mais tempo sem receber dinheiro e por esta razão o administrador acaba injetando recursos dele próprio no caixa da empresa, financiando o cliente e com isso aumenta o capital de giro.
Outra forma de aumentar o capital de giro é emprestando dinheiro: por exemplo, se empresta mil reais para um terceiro e depois este retorna devolvendo o valor acrescido com 10% de juros.
Vale lembrar que o capital de giro é recurso obtido em forma de dinheiro ou de crédito. E que quando se faz um investimento de longo prazo com este ou mesmo no curto prazo – como, por exemplo, com período de seis meses à frente – deve-se elaborar o fluxo de caixa para ver quanto custaria o investimento no presente e no futuro, concluindo se realmente valeria à pena.
E por fim, o capital de giro também apresenta divisões conforme a liquidez e sua proporção ao longo do tempo, com caráter permanente (ou constante) ou temporário, conforme as figuras a baixo:

Comportamento do capital de giro
Conforme a figura nota-se que as alterações no capital permanente ocorrem entre longos intervalos. E quanto ao capital de giro propriamente dito se observa as divisões de Temporário e de Permanente.
No capital temporário os recursos oscilam conforme as vendas, ao passo que no permanente, o crescimento é constante. Vale aqui salientar mais uma informação: é possível financiar investimentos de curto prazo com recursos de longo prazo, no entanto, não seria saudável financiar investimentos de longo prazo com recursos do capital de giro, pois vencem antes que as operações gerem o retorno suficiente.


      Decisões relacionadas à liquidez e rentabilidade

Para que o administrador financeiro possa tomar, com toda convicção, decisões concretas em relação à liquidez, rentabilidade e investimentos benéficos para a empresa devem fazer uso dos coeficientes ou índices de liquidez constantes na Análise de Balanços.
É comum e correto para uma empresa usar os prazos das contas a receber e a pagar, ficar sempre atento ao fluxo de caixa1 - que é a Demonstração de Fluxo de Caixa Direta. Este que administra o capital de giro de hoje para frente, e não no final no mês, quando a contabilidade já efetuou todos os cálculos - e nunca vender ao cliente com prazo superior ao do que foi comprado do fornecedor. Se comprar para pagar em um ano apenas poderá vender para o cliente se este puder pagar com o mesmo prazo ou menos. Quando a empresa faz o contrário acaba pagando capital de giro emprestado de bancos e pagando juros, de cerca de 5% ao mês. É algo arriscado e custoso que a empresa antes de aceitar deve estudar e planejar para prever seus impactos.
A empresa tem liquidez quando consegue realizar os seus ativos. Um exemplo desse processo é o ato de “girar o estoque”, ou seja, a empresa vende um produto, que sai do estoque e em consequência é recolocado outro no lugar. Se não vende, não realiza o ativo – estoque. Logo, a empresa diminui o preço e quanto mais esta conseguir vender, menor será o prejuízo (de ficar sem receber). Caso a empresa não tenha mais como vender, é urgente que tome alguma providência.
O acionista acredita no estoque e se este não é mais vendido, não tem mais valor. É mais prudente quebrar todo o estoque sem valor e o vende como sucata do que mantê-lo e dando custos e prejuízo. Se no estoque existem produtos que giram de três a seis vezes por exercício e têm também produtos parados a empresa deve ter alguma ação para fazer todo o estoque girar.
O fato mais importante que deve ser observado pelo administrador financeiro na empresa é o conflito entre a liquidez versus a rentabilidade. Tomemos o exemplo ma seguir: os gestores da empresa “x” querem deixar R$ 1.000.000,00 no capital de giro.
Os investimentos da empresa confirmam a necessidade deste valor, mas como há o risco de o investimento ficar mais caro decidiu-se por colocar mais meio milhão de reais. Com isso. Estão o investimento está garantido e ainda terão liquidez. Caso o lucro desta empresa fosse de R$ 200.000,00 e com um investimento inicial de R$ 1.000.000,00, ter-se-ia 20% de rentabilidade.
Contudo, se o lucro ainda tivesse o mesmo valor e o investimento (capital de giro) fosse maior em quinhentos mil reais ter-se-ia 13,3% de rentabilidade. Logo, todo o aumento de liquidez consiste em queda de rentabilidade.
Como é de se notar, ao aumentar a tranquilidade se acaba por diminuir a margem de lucro e o contrário é verdadeiro: se, por exemplo, o lucro continue com o mesmo valor e agora mexamos com o capital de giro para baixo, de 1,5 milhões de reais para R$ 850.000,00 a rentabilidade aumentaria para 24%. Contudo, baixando o capital de giro, a empresa poderia perder grandes oportunidades – tais como propostas de fornecedores em aquisição de materiais pela metade do custo habitual – ou mesmo de estar preparada para eventuais contingências.
O ponto certo entre o conflito liquidez e rentabilidade varia conforme a atividade e mesmo assim, depende de estudos. Em síntese, viu-se que:
  • Quando se aumenta o capital de giro, o resultado é aumento de liquidez e diminuição de rentabilidade e
  • Quando se diminui o capital de giro, o resultado é menor liquidez e maior rentabilidade.
Partindo desses pontos é possível afirmar que se sobra dinheiro em caixa todos os meses é o mesmo que dizer que há muito capital de giro e que a rentabilidade é afetada. Mas se a empresa devolver o dinheiro que sobra aos sócios recupera-se a rentabilidade. O ideal, no entanto, é haver o equilíbrio, deixando-se assim o capital de giro no limite, apenas o necessário.


1O Fluxo de Caixa pelo método direto é geralmente utilizado para planejar e controlar o capital de giro da empresa. Já o fluxo de caixa que pode ser elaborado pelo administrador financeiro não precisa necessariamente ter o formato da demonstração contábil. Registra os valores de entradas e saídas conforme o dia em que ocorre, facilitando o planejamento e tomada de decisões relacionadas ao caixa.

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