sexta-feira, 29 de abril de 2016

Controladoria e contabilidade gerencial


      O conceito de accountability

Accountability diz respeito a as responsabilidades da empresa como um todo de prestar contas aos stakeholders. Sob a ótica da teoria dos contratos e como consequência das relações sociais, políticas e econômicas nas sociedades, se vêem que sempre há delegação de funções (poder) e juntamente com isso, de responsabilidades. Segundo Nakagawa (1993)1:
Accountability é a obrigação de se prestar contas dos resultados obtidos, em funções das responsabilidades que decorrem de uma delegação de poder. Nas grandes empresas, onde é muito clara a noção de separação entre propriedade e gerência, os acionistas majoritários, muitas vezes, interesses de inúmeros investidores minoritários, elegem os membros de seu conselho de administração, os quais escolhem as pessoas que efetivamente deverão gerir os negócios das empresas, formando-se, uma grande cadeia de “accountability”, que percorre toda a sua estrutura organizacional (NAKAGAWA, 1993).
Esse conceito foi desenvolvido nos Estados Unidos e por essa razão a expressão foi importada sem tradução. As empresas costumeiramente se confundem com seus donos. A Sadia e as Casas Bahia, por exemplo, tem seus donos e povo sabe quem eles são. Nos Estados Unidos, por exemplo, essa distinção entre dono e empresa já não existe. A maioria do capital da empresa Ford não está mais com seus herdeiros diretos.
Como existem milhares de ações de capital e milhares de donos dessas ações, não há mais a figura do dono da empresa e mesmo se por acaso existir um herdeiro como proprietário da empresa, o grosso do capital não estará mais nas mãos dele.
E como a empresa tem diversos donos de ações surge à necessidade de prestar contas sobre a administração dos recursos confiados, isto é, informar de onde vieram, para aonde vão e como serão gastos. Então, o conceito de accountability diz respeito à obrigação de as empresas prestarem contas a todas as partes interessadas. A figura abaixo dá uma noção do conceito dentro da contabilidade:
E quais seriam as partes interessadas? Seriam apenas os acionistas? A resposta é não. Não apenas os acionistas da empresa têm direito as prestações de contas dos resultados e danos causados com os recursos empregados. Todos os stakeholders – fiscos, governos, fornecedores, comunidades ou grupos sociais - por serem afetados pela organização empresarial tem direitos de conhecer os atos praticados com o dinheiro dos acionistas.
Durante o semestre em que foi ministrada a disciplina Controladoria pela UMC houve um fato que serviu de exemplo para situação de caso de falta de responsabilidade para com os interessados. A Sadia tentou comprar a Perdigão... Se viesse a obter êxito nessa negociação a Sadia teria conseguido eliminar o seu maior concorrente e teria dobrado de tamanho.
A empresa Sadia fez uma oferta de compra e que não foi aceita por que os acionistas entenderam que o valor era muito baixo. O diretor financeiro da Sadia antes mesmo de fazer a oferta comprou ações da empresa, afinal não era dono e sim empregado. Quando saiu a oferta o mercado entendeu que a nova empresa que seria formada teria muita força e daria muito lucro.
Se o diretor financeiro tivesse comprado cada ação por $ 15 e o mercado posteriormente aumentando o seu valor, para, por exemplo, $ 20 e $ 25 nas semanas seguintes, em três semanas o preço da ação da Sadia teria aumentado mais de 60%. Mas diretor financeiro não comprou uma ação pelo valor de $ 15; comprou na verdade mais de 600.000 reais. Em três semanas o valor total subiu para R$ 1.020.000,00. Houve aumento de R$ 420.000,00 em relação ao período da compra, ou também, 70% de alta.
Quando a venda das ações não foi aceita, o valor destas voltou a cair e para não perder dinheiro o diretor financeiro da Sadia as vendeu, conseguindo ainda obter lucro de 300.000 reais, um lucro, mesmo que inferior ao de R$ 420.000,00. Pela lei das sociedades por ações, pela Comissão de Valores Mobiliários e pelo Banco Central o diretor financeiro da Sadia fez algo proibido, uma vez que se utilizou de uma informação privilegiada para ter lucro para si.
O problema: o acionista sabe que é crime utilizar informação privilegiada para ter ganhado particular e com isso decide que não compra mais ações de uma empresa que tem um funcionário de cargo com alta importância que faça falcatruas. O mercado começa a suspeitar da empresa que te funcionário que faz uma coisa dessas: os bancos não vão mais oferecer créditos. Por ter tentado ganhar com esse desrespeito aos stakeholders a Sadia, que é multinacional, foi punida pela Bolsa de Nova York, pela CVM entre outras.
Todos os stakeholders passaram a exigir que a Sadia preste contas e o diretor financeiro envolvido no caso tiveram que devolver o dinheiro. É um exemplo que as empresas estão cada vez mais sendo pressionada a mostrarem as partes interessadas o que elas fazem com os recursos que captam. Isso é accountability.
Também vão contra as boas práticas empresariais no mercado e contra os stakeholders as fraudes contábeis. Mas como ocorre esse tipo de fraude? São as irregularidades quando ocorrem nos demonstrativos financeiros da empresa. Por uma fraude de informação contábil, por exemplo, a decisão tomada pela alta gerencia não tem fundamentos.
Durante a disciplina de Controladoria foi trabalhado o artigo de Paul Krugman intitulado “O grande marco Divisor” sobre a Enron, gigante norte-americana, que tem alguns trechos transcritos a baixo2:
Foi um acontecimento chocante. Com velocidade incrível, nossa percepção sobre o mundo e sobre nós mesmos mudou. Parece que antes vivíamos em uma espécie de cega inocência, sem um senso verdadeiro quanto aos perigos que nos aguardavam. E terminamos despertando de maneira brutal: tudo mudou. [...] Um bom número de pessoas tentou desconsiderar a importância do caso Enron. – não só o secretário do Tesouro, Paul O’ Neill, com sua infeliz declaração “as empresas vêm e as empresas vão”, mas jornalistas que acreditam que a quebra de uma empresa desse porte não importa muito. Pensem na situação da seguinte maneira: o negócio da maioria dos norte-americanos são os negócios, e a Enron já conquistou lugar como um dos maiores escândalos de negócios na historia. Houve outras empresas grandes e admiradas que falissem, houve outras empresas que provaram ser em geral fraudulentas. Mas não me recordo de outro caso em que a mais admirada das empresas de um país se tenha provado uma enorme fraude. Sim, muita gente perdeu dinheiro, mas isso aconteceu porque os investidores foram tolos – compraram ações acreditando nas bobagens econômicas da “Nova Era” ou porque consideravam que os anúncios de TV com William Shatner eram ótimos. [...] É verdade que a Enron conseguiu se beneficiar bastante da mesma espécie de jargão da nova economia que alimentou a bolha das empresas de internet – por exemplo, o antigo executivo-chefe do grupo, Jeffrey Skilling, gostava de dizer que a empresa era “virtualmente integrada”. [...] Agora, o que aconteceu?No momento, os pedidos de reforma são dispersos e confusos. Algumas pessoas querem novas regras para as contas de aposentadoria pessoal facilitadas pelo governo; alguns querem novas regras para as empresas de auditoria; algumas clamam por uma reforma nas regras de financiamento de campanhas eleitorais; algumas querem a volta da regulamentação. Parecem ser pontos de vista completamente disparatados, mas acredito que exibam um fim de uma era de frouxidão, em que ninguém fazia perguntas duras enquanto as aparências fossem preservadas. É evidente que o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, não o compreende: ele acredita, afinal, que depois de tudo o que aconteceu deveríamos confiar em sua garantia de que as empresas de energia não distorcerão o plano nacional do setor que ele apresentou. Claramente Harvey Pitt, o presidente da Securities and Exchange Commission, não entende a situação: eu não finjo compreender as questões institucionais envolvidas no projeto de reforma das empresas de auditoria, mas todo mundo que conheço encara o suposto plano de reforma dele como uma piada (KRUGMAN, 2002).
A Enron tinha um excelente nome e credibilidade no mercado. Era responsável por produzir energia para todos os Estados Unidos. A sua imagem era tão positiva que todos a amavam, afinal, era uma empresa exemplo. Era algo semelhante à Petrobras no Brasil. E por tudo isso, a queda da Enron causou um impacto social tão grande e levou tantos investidores brasileiros a não comprar mais ações.
A fraude fez muita gente perder a “poupança” da faculdade dos filhos e da aposentadoria, escureceram cidades, inúmeros danos à sociedade. Investiram numa empresa tão grande que supostamente dava tanto lucro que o rombo tão inesperado levou a queda coletiva de acionistas e a fazer o mercado a passar a adotar novas posturas.
As empresas estão buscando cada vez mais se ajustar ao novo mercado que vem se apresentando e para tanto se utilizam de técnicas, meios e ferramentas das mais variadas formas. No entanto, não se pode esquecer que as empresas são responsáveis por seus atos. Como conclui Nakagawa (1993: 32):
Nesse contexto, o entendimento do conceito de accountability assume um papel da mais elevada relevância. A Contabilidade, enquanto conjunto de normas e procedimentos para a coleta, classificação, mensuração, registro, interpretação e comunicação de dados e informações relativas a eventos e objetos que concorrem no âmbito de uma organização, que tem como objetivo o principal núcleo de um Sistema de Informações, que tem como objetivo sinalizar seus usuários a tomarem as decisões mais eficazes possíveis (NAKAGAWA, 1993).

      Unidade de negócio

Quando a estrutura organizacional das empresas pode-se dizer que existe a divisão vertical e a horizontal. Basicamente a diferença está no modo como os funcionários se comunicam e tomam decisões no âmbito de suas atividades.
Em vez da figura do vice-presidente, há o vice-presidente comercial, responsável pelo comércio da empresa e conhecedor do trabalho dele e os dos níveis abaixo de suas atividades; e que por sua vez também conhece as atividades inferiores e aí por diante. Cada um dentro da empresa tem o poder de decisão e não precisa sempre se reportar aos escalões superiores.
Na estrutura organizacional vertical apenas o presidente da empresa tem total poder para mandar e tomar decisões. E nas empresas onde a estrutura é horizontal cada uma de suas muitas unidades tem autonomia para tomar suas decisões, o que gera cobranças por bons resultados. Cada unidade tem responsabilidade por seus resultados dentro da empresa, diferentemente de uma organização vertical.
E por terem responsabilidade cada uma dessas partes (horizontal) recebe a denominação de unidade de negócios. Porem, não é comum a presença de empresas que aderem ao modelo horizontal.


      Total Quality Management

O Total Quality Management – TQM – ou Gerenciamento da Qualidade Total é uma ferramenta dos anos 70 que foi criada para aperfeiçoar os processos de produção, de forma que todos os produtos sejam entregues aos clientes sem apresentar defeitos. Em outras palavras, é a melhoria da qualidade e o monitoramento de todas as etapas da produção.
Por exemplo, na caixa de suco deve consta à informação controlada de qual pomar foi plantada a fruta (matéria-prima), que local, que agentes químicos foram utilizados para o extermínio das pragas entre outras informações.


      Imperativo da geração de valor

O imperativo da geração de valor para uma empresa é a obrigatoriedade desta em gerar riquezas com os seus produtos ou serviços. Para o acionista se diz que vale a pena investir na empresa se esta for capaz de oferecer o retorno que ele espera. Por suposição diga-se que na empresa “x” havia o acionista que também era o dono da organização. Como não tem como controlar todas as atividades e processos da empresa o acionista nomeia um individuo para ser seu representante como presidente da empresa.
O acionista deixa um capital com o valor de um bilhão nas mãos do presidente da empresa e depois de um ano, retorna à sociedade empresarial para ver os demonstrativos contábeis (como a DRE, por exemplo) e para resgatar o lucro esperado por ele de 100 milhões. Segue o quadro com esta relação:
Lucro Líquido do Exercício
$ 100.000.000,00
Retorno de 10%
Patrimônio Líquido
$ 1.000.000.000,00
Cem milhões de reais é muito retorno de dinheiro, mas não tanto comparado a um fundo de investimento que poderia render 15% do capital social. Se em vez do acionista entregar o dinheiro para que o presidente utilizar para fazer a empresa funcionar e no final resultar em 100 milhões de reais (e correndo risco de perder o dinheiro), seria melhor colocar num fundo de investimento ou semelhante que além de render mais tenha menos riscos.
E comparando tem-se que: quando o investimento rende 15% em vez de gerar apenas 10% de retorno entende-se que se gera valor de 50 milhões de reais em ganhos (15% = 150.000.000). Gerou-se apenas 10% pode-se dizer que não gerou valor algum, e sim o acionista acabou na realidade perdendo cinquenta milhões de reais se tivesse investido em algo melhor.
É um raciocínio simples e que pode ser facilmente aplicável quando da decisão de algum investimento. Se o investidor tem um montante para alocar num negócio que pode muito bem proporcionar 10% de lucro deve investir, a menos que venha a opção de investir em algum fundo que possibilite um resgate maior.




Bibliografia
KRUGMAN, 2002: KRUGMAN, Paul. Tradução: Antonio Barros Castro, O grande marco divisor, 30 jan. 2002
NAKAGAWA, 1993: NAKAGAWA, Masayuki, Introdução à controladoria: conceitos, sistemas, implementação, 1993


1NAKAGAWA, Masayuki. Introdução à controladoria: conceitos, sistemas, implementação. São Paulo: Atlas, 1993.

2Krugman, Paul. O grande marco divisor (2002). Fonte (jornal, revista) da tradução desconhecida.

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