quarta-feira, 15 de junho de 2016

Exemplo de ensino de Controladoria: interação grupos x alunos x professor


Prezados leitores, hoje o Blog Essenziale Prime começa mais uma série de postagens, desta vez discutindo sobre as diferentes formas de lecionar a Controladoria nas Universidades, tanto nos cursos de Graduação em Ciências Contábeis quanto de Pós-Graduação.

Quando fiz meu curso de pós-graduação em Controladoria Estratégica tive uma disciplina chamada Controladoria, o que seria o núcleo de todos os dois anos de estudo.
Há de se destacar que comparando com as grades curriculares de outros cursos disponíveis — conforme Koliver (2005) no Mestrado Profissional em economia – a ênfase em Controladoria, aberto a pessoas com curso de graduação e reconhecido por instituição de ensino superior, apresenta geralmente seis disciplinas obrigatórias:
  • Sistema de Informações Gerenciais;
  • Gestão Estratégica de Custos;
  • Finanças Corporativas;
  • Controladoria;
  • Contabilometria.
  • Análise dos cenários nacionais e internacionais.
Segundo o autor citado fica nítida a “predominância dos temas contábeis, e a controladoria é reconhecida como departamento, isto é, unidade administrativa”. As grades curriculares dos cursos que anunciam o título de Controladoria concentram-se na área contábil – denominada de Controladoria – e no quadrante financeiro, embora não seja indicado o limite entre os dois setores. Ressalte-se um aspecto importante nos termos do objetivo do presente trabalho: o curso está aberto à frequência de pessoas com outros cursos de graduação (KOLIVER 2005).
Ademais, entre os estudos apresentados nesse tipo de curso de pós-graduação vemos comumente disciplinas como Contabilidade Gerencial, o que nitidamente exige conhecimentos contábeis dos alunos, embora isso não seja especificado durante a inscrição destes no curso. Sobre aquela disciplina cabe a informação de que:
Vale dizer que a Contabilidade Gerencial é uma das modalidades de aplicação da Contabilidade à prática, como a Contabilidade Financeira, a Contabilidade de Custos, a Contabilidade Orçamentária, a Análise Econômico-Financeira, o Controle Interno, a Auditoria, etc. Com base nessa premissa, cumpre buscar resposta à pergunta sobre o que significa, finalmente, Contabilidade, porquanto tal conceituação estabelecerá a amplitude do universo do sistema de informações que apoiará os processos decisórios no âmbito executivo. Partindo-se da existência da Contabilidade na condição de ciência social, o reconhecimento de que ela possa ser dividida, em termos aplicados, em ramos ou técnicas, constitui simples recurso facilitador dos estudos e das aplicações, na busca de soluções de problemas concretos no exercício profissional (KOLIVER 2005, 23).
Logo, num curso aberto à qualquer aluno independente de sua graduação o fato de se lecionar Contabilidade, pelo menos em minha opinião, tende a deixar o curso quase como um repeteco do cursos de Ciências Contábeis, para os estuantes formados nessa área.
E pensando nisso escrevo este tópico, para detalhar o que foi a disciplina de Controladoria do Curso de Pós-graduação em Controladoria Estratégica da Universidade de Mogi das Cruzes – UMC.
A proposta acadêmica oferecida pelo professor da matéria foi bem distinta a apresentar balanços contábeis ou se deter em lançamentos contábeis e ou técnicas de custeios. Tratou o professor em dividir a sala em grupos e cada grupo deveria pesquisar um tema, e apresentar o estudo em duas ou três semanas. O problema era que antes de apresentar o trabalho o grupo deveria mandar uma cópia para o e-mail de cada e-mail dos colegas da turma.
E para quê fazer isso? Simples: um que recebesse o trabalho escrito deveria lê-lo e montar uma crítica construtiva e com sugestões bem argumentadas de modo a ampliar o trabalho, enviando então esse adicional para o grupo autor e para o professor, tudo é claro valendo nota. Francamente, até hoje não sei se isso foi uma forma do professor ter menos trabalho para lecionar ou uma didática para que cada aluno corresse atrás do próprio conhecimento.
De uma forma geral quanto mais críticas “ruins” o trabalho recebesse, menor seria a nota do grupo que o escreveu, o que ao final das contas parece ser um estímulo para que cada grupo fizesse o melhor possível, vez que teria que ser confrontado com uma sala de mais de quarenta alunos.
Segundo o professor esse era o modo de didática de seus professores em seu mestrado, que serviria para fazer com que os mestrandos de lá e a nossa turma de pós graduandos “pensasse dentro da controladoria”. Então pensamos, o que seria pensar em Controladoria? Aliás, o que é mesmo controladoria?
Se puxarmos os conceitos teóricos na literatura disponível podemos definir que a controladoria é um departamento que funciona como região central de informações, tendo cinco grandes funções, a saber:
Subsidiar o processo de gestão: ao presidente da empresa é a sua função fazer que o processo de gestão e curso de ação seja modelado às vontades dos donos da organização. Segundo explica Ivam Ricardo Paleias isso é feito em três fases:
  • Planejamento, que tem haver com estar junto n estabelecimento das metas, para que apenas sejam traçados planos e metas possíveis de conclusão;
  • Execução, acompanhando o andamento das ações tomadas (com o auxílio também de orçamentos para efetuar comparações ao orçado e;
  • Controle, comparando as informações sobre as ações dos gestores e das áreas de responsabilidades [PELEIAS, 2002].
Apoiar a avaliação de desempenho: fazer a avaliação individual dos gestores quanto ao desempenho. Conforme a opinião de Armando Catelli a controladoria não vai atuar no lugar dos gestores, vai identificar problemas e soluções sob a ótica econômica de cada área e da empresa e do respectivo gestor, indicando por meio do modelo o meio exato para se chegar ao resultado anteriormente traçado pela presidência [CATELLI, 2001].
Apoiar a avaliação de resultado: diz respeito à controladoria repassar informações aos gestores sem atuar diretamente no processo administrativo, elaborando e analisando o resultado econômico de produtos e serviços, monitorando e orientando o processo de estabelecimento de padrões e avaliando, finalmente, o resultado de seus serviços.
Gestão dos sistemas de informação para apoio ao processo: Peleias (2002), diz que, é papel da controladoria suprir os gestores com a informatização do processo de gestão, com o intuito de agilizar o planejamento, o registro e o controle das decisões tomadas.
Atendimento aos agentes de mercado: A função que a controladoria exerce com o ambiente em que a empresa se insere, por ser um sistema aberto, é a de acompanhar, interpretar e avaliar o impacto que as legislações federal, estadual e municipal causam a atividade organizacional e; atender aos agentes de mercado, sendo como representante preestabelecido formalmente, ou dando apoio ao gestor responsável pelo atendimento de mercado.
E o que foi feito pelos alunos é Controladoria? Podemos agrupar algumas tarefas desempenhadas que vão em direção à Controladoria, que veremos a seguir.


A coleta de dados para apresentação aos diretores ou colegas de sala

Coleta de Dados – tanto a Controladoria quanto os alunos precisaram coletar dados para montar informações (no caso de empresas, os relatórios, já para os alunos, desenvolver um trabalho acadêmico a ser entregue aos colegas de sala, que representariam os diretores da empresa, tendo ainda um prazo para a sua conclusão e apresentação. Se na empresa o Controller terá que desenvolver meios para centralizar informações que lhe sirvam para a tomada de decisões, os alunos também, mas neste último caso, o resultado a ser alcançado é o próprio trabalho a ser feito, a saber, sem falhas ou pontos fracos.
Nesta fase é feito o planejamento do que cabe ou não no trabalho, e para a Controladoria no ambiente corporativo, o que serve ou não (no que se refere a técnicas gerenciais) para permitir à empresa chegar ao lucro desejado.
Se compararmos aqui a controladoria como a ferramenta que vai permitir aos gestores os dados necessários e as devidas correções (por exemplo, no desenvolvimento de um método mais flexível de custeio ou uso de um software para análise de gestão econômica) podemos atribuir ao grupo que vai apresentar um trabalho acadêmico como sendo os responsáveis por planejar um relatório que deverá mostrar-se satisfatório aos gestores e de um modo personalizado, por assim dizer. Afinal temos que ter em mente que o grupo que vai apresentar será alvo de questionamentos por parte daqueles que nunca ouviram o tema – ou para o controller, o relatório.


Geração de informações tendo por base relatórios de terceiros e sem conhecimento sólido de seus assuntos

Como adiantamos, o Controller é o chefe do departamento de controladoria, que centraliza as informações, monta os relatórios e como um painel de controle gera as ferramentas que permitirão tomadas de decisões estratégicas e corretivas para que a empresa consiga chegar aos resultados desejados. Sob este aspecto, os alunos que não fizeram o estudo a ser apresentado em seminário dispunham de poucos dias para ler o material que lhes chegara por e-mail, entender o seu teor e ainda determinar pontos fortes e fracos naquela literatura. Vamos a um caso verídico: eu recebi de um dos grupos um trabalho sobre Teoria da Agência e Governança corporativa. Não sabia nada sobre o tema, mas deveria ler e é claro pesquisar mais fontes externas para poder analisar tecnicamente o material. 
Ao final constatei que o referido trabalho era composto por 80% plágio de teorias, 15% de textos citados de um livro que constava nas referencias bibliográficas e os 5% restantes, paráfrases elaboradas pelo grupo. O Trabalho dizia o que era cada um dos temas e apenas isso. E o que fiz em minha análise? Busquei por conceitos, é claro, mas além disso exemplos de empresas que são reconhecidamente incentivadoras ou obrigadas á adoção de boas práticas de governança corporativa.
Resumindo, em meu trabalho de adição ao original acrescentei o que faltava: exemplos reais de empresas que adotam os temas apresentados. Não foi um trabalho fácil, afinal de contas foram dois dias para ler o texto e correr atrás de complementos para melhorar o trabalho, sendo que não tinha o conhecimento aprofundado sobre o assunto.
E disso me vem à mente: o Controller no ambiente corporativo deve receber dados dos mais variados tipos num primeiro momento, e após analisá-los deve classificá-los em categorias e em departamentos, de forma a definir o que são, que gastos envolvem e quais consequências ou benefícios trazem. E tudo isso em tempo rápido pois a dinâmica do mundo empresarial e corporativo assim o exigem. Para terminar, acrescento aqui as palavras de Koliver (2005), extraídas do trabalho de Mestrado Profissional em economia – ênfase em Controladoria, NECON/UFRGS, aberto a pessoas com curso de graduação, reconhecido por instituição de ensino superior, apresenta seis disciplinas obrigatórias (KOLIVER 2005, 26):
O ato de executar está baseado neste conjunto de elementos que se completam – liderança, fixação de objetivos, planejamento, implantação de ações, controle, avaliação de estoques, custos, preço de venda, consecução de metas, financeira, qualidade –, e, fundamentalmente, o controller deve ter conhecimento de Contabilidade, sabendo usá-la como instrumento de informação e de apoio. Em suma, requer habilidades interpessoais, conhecimento de si próprio e de sua capacidade, habilidade na utilização da tecnologia para concretizar as metas, traduzindo um conjunto de informações técnicas para uma linguagem de negócio e de decisão. Conclui-se que, para ser controller, não basta querer ser, é necessário, sim, estar preparado para saber ser e executar a função com conhecimento, disciplina e convicção (KOLIVER 2005).
Então é isso. Nas próximas postagens apresentarei alguns dos trabalhos apresentados e minhas sugestões para melhorá-los. Até lá.

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