sexta-feira, 10 de junho de 2016

Valores que integram o cálculo da margem de contribuição


Cabe esclarecer que mesmo as despesas variáveis integrarem o cálculo da margem de contribuição, não é agregado ao produto para fins de avaliação de estoques, quando de uso interno do Custeio Variável. O mais adequado seria o seu tratamento como redução do valor de venda. Isso não altera em nada no cálculo da margem e facilita a solução de problemas relativos ao quantificar custo do produto.

Mas antes, Dê uma olhada no último post desta série:  
https://essenzialeprime.blogspot.com.br/2016/05/como-definir-margem-de-contribuicao-e.html
https://essenzialeprime.blogspot.com.br/2016/06/vamos-calcular-margem-de-contribuicao.html 

      A taxa de retorno

Qualquer empreendimento que é aberto almeja a obtenção de retorno sobre o investimento. Pretende obter lucro com suas atividades. Na contabilidade há a Demonstração de Resultado do Exercício, onde se evidencia o lucro. E o que existe no lucro? O lucro tem relação direta com as vendas, o preço, a produção entre outros fatores. Contudo, não é possível ver na DRE claramente se o lucro obtido é satisfatório ou não para a empresa e para os sócios ou acionistas.
O retorno de todos os investimentos e a verificação se o lucro foi de fato satisfatório ou não pode ser verificado observando-se as relações existentes entre o lucro e o Patrimônio Líquido:
Equação 1: Retorno sobre Patrimônio Líquido
O Patrimônio Líquido representa o capital próprio, resultado do total de Ativos menos o montante de capital de terceiros. Logo, é a obrigação para com o sócio, é o valor líquido de direito dele e o resultado de seu investimento na empresa. Com isso, o Lucro dividido pelo PL deve dar percentual favorável e no mínimo igual ou superior a Taxa Selic, utilizada como a taxa básica de juros, referencia para a economia. Desta forma, se o percentual for maior que a Selic, pode-se dizer que houve lucro, mas ainda não significa que este resultado é satisfatório.
Por exemplo, o percentual pode ser 0,5% maior que a Selic e 100% menor que a média obtida pelas outras empresas do mesmo ramo de atividade. Quando rende menos o administrador deve reavaliar as suas ações e decidir se continua buscando retorno sobre seus investimentos com alto risco ou se vai para a Poupança, Selic ou outros fundos de investimentos que sejam mais rentáveis ou conservadores e em correr riscos.
Um bom exemplo seria o de um supermercado que tem em média um retorno sobre suas vendas (lucro/vendas) de 2 a 5%. É bom se for realmente sobre as vendas. Porém, se for o retorno sobre o Patrimônio Líquido (lucro/PL), o ideal seria ter um resultado em torno de 20 a 70%.
E voltando a Taxa de Retorno, como escreve Martins (1990, 188), é “a forma ideal de se avaliar a taxa e retorno a divisão do lucro obtido antes do imposto de renda e antes das despesas financeiras (LAJIR) pelo ativo total utilizado para a obtenção do produto”.
Assim, tem-se a seguinte fórmula da Taxa de Retorno sobre o investimento:
Equação 2: Taxa de Retorno
Sendo que:
  • T r = Taxa de Retorno
  • Juros = as despesas financeiras.
Quando se fala em retorno sobre investimento lembra-se do Patrimônio Líquido. No entanto, ao se fazer uma análise por produto fabricado e vendido não é possível dividir o PL por bem elaborado pela empresa. Assim, deve-se pegar a Margem de Contribuição de cada produto e dividir pelo seu respectivo investimento e depois, o total do lucro obtido pelo total investido (Ativo) para uma análise mais ampla.
Segundo Martins (1990):
No retorno não devem ser incluídas as Despesas Financeiras, já que estas são derivadas do Passivo (Financiamentos), e não do Ativo (Investimentos). Do retorno dado pelo Investimento, parte será utilizada para aumentar o capital de terceiros (Despesas Financeiras), e parte para remunerar o Capital Próprio (Lucro Líquido do proprietário). O retorno, soma dos dois, é o que melhor define o desempenho global.
Para explicar as aplicações possíveis da Taxa de Retorno dentro da empresa vamos partir novamente dos exemplos propostos por Martins (1990). Segundo o mesmo autor:
O problema da utilização dessa ideia consiste não só na apuração do lucro, mas também na separação de qualquer investimento pertencente a cada produto. É comum (mas não correto) proceder-se da seguinte forma: rateia-se a Despesa de Venda e a de Administração também aos produtos, com base em critérios os mais variados (proporcionalidade a preço de venda, lucro bruto, tempo de fabricação etc.), como se fizessem parte do custo propriamente dito, chegando-se assim ao “lucro líquido” antes das Despesas Financeiras e o Imposto de Renda de cada produto. Rateia-se também o investimento (ativo) total pelos produtos, com base em critérios igualmente estudados, atribuindo-se parte dele por cada produto (MARTINS, 1990).
Para melhorar os entendimentos correlatos a Taxa de Retorno, utiliza-se novamente a Margem de Contribuição.
Siga o exemplo a seguir: admite-se que uma empresa fabrique três produtos, identificados apenas como L, M e N. Estes produtos apresentam os seguintes custos variáveis de produção, em unidades:
Quadro 1
Custos de Produção
Variáveis
L R$ 1.500,00 /unidades
M R$ 2.800,00 /unidades
N R$ 2.100,00 /unidades
E para que a empresa consiga fabricar esses produtos, acabam sendo necessários os seguintes custos fixos de produção, contabilizados mensalmente e apresentados abaixo:
Quadro 2
Fixos
Identificados com os produtos:
L R$ 200.000,00 /mês
M R$ 100.000,00 /mês
n identificados R$ 700.000,00 /mês
Como é fácil de notar, esta empresa também separou os custos fixos que não são identificados por produtos. Após estas informações a empresa também apresenta o seu montante de despesas variáveis conforme as vendas e as fixas mensais em reais, no quadro a seguir (Quadro 3):
Quadro 3
Despesas de vendas
Variáveis
10%
Preço de venda
Fixas R$ 200.000,00 /mês (comuns)
No quadro a seguir (Quadro 4) a empresa informa o seu montante de gastos com despesas administrativas fixas mensais e comuns a todos os produtos. Esses valores de custos fixos, bem como os demais não identificados serão utilizados mais adiante.
Quadro 4
Despesas administrativas
Fixas R$ 400.000,00 /mês (comuns)
No quadro a seguir (Quadro 5) a empresa apresenta os preços de venda unitários de cada produto, em reais.
Quadro 5
Preço de venda
L R$ 2.500,00 /unidade
M R$ 4.200,00 /unidade
N R$ 3.300,00 /unidade
Abaixo segue o montante de vendas conseguido da empresa, em reais. A empresa também fabricou a mesma quantidade para cada produto, conforme segue o quadro:
Quadro 6
1000
Unidades vendidas
1000
Unidades produzidas
E anexo a estas informações, a empresa divulgou o seu ativo total do período, em reais e por produto fabricado. No Quadro 7 está o resumo do Ativo da empresa. O ativo servirá de base para a composição dos investimentos totais da empresa no cálculo da Taxa de Retorno.
Quadro 7
Investimentos (Ativos)
Identificado com os produtos
Comum R$
Total R$
L
M
N
R$
R$
R$
Disponibilidades
0
0
0
150.000
150.000
Estoques
300.000
1.100.000
1.000.000
200.000
2.600.000
Valor a receber





Líquido
350.000
600.000
700.000

1.650.000
Imobilizado





Líquido
400.000
900.000
0
2.300.000
3.600.000
Total
1.050.000
2.600.000
1.700.000
2.650.000
8.000.000
As disponibilidades no Ativo são genéricas: os estoques contem matéria-prima, produtos acabados e embalagens que são identificáveis a cada produto; materiais diversos de consumo industriais comuns e gerais a todos os bens fabricados; valores a receber de clientes identificados e não identificados e no imobilizado, máquinas e instalações relacionadas aos produtos L e M e a maior parte comuns a todos demais.
Mas além do Ativo, a empresa também divulgou a sua Demonstração de Resultado do Exercício – trabalhada à base da sequência da Margem de Contribuição, também em reais e resumidas, conforme o Quadro 8:
Quadro 8
Demonstração de resultados

L
M
N
Comum R$
Total R$
R$
R$
R$
Receita total
2.500.000
4.200.000
3.300.000

10.000.000
(-) desp. Variáveis
(250.000)
(420.000)
(330.000)

(1.000.000)
(-) custo variável
(1.500.000)
(2.800.000)
(2.100.000)

(6.400.000)
(=) 1ª M Contribuição
750.000
980.000
870.000

2.600.000
(-) Custos F Ind.
(200.000,00)
(100.000,00)
0,00

(300.000)
(=) 2ª M Contribuição
550.000
880.000
870.000

2.300.000
(-) C F Comuns



(700.000)
(-) Despesas c/ Vendas C



(200.000)
(-) Despesas Administrativas C



(400.000)
(=) Lucro



1.000.000
Da forma como demonstra o quadro anterior, a empresa conseguiu obter um lucro de R$ 1.000,00. E então surge a pergunta: esse lucro é satisfatório?
A taxa de retorno pode auxiliar na resolução desta questão. Para começar, o que indica a Taxa de Retorno? Vejamos o Quadro 9, abaixo, para poder explicar mais claramente.
Quadro 9

L
M
N
Total R$
R$
R$
R$
(=) 2ª M Contribuição
550.000
880.000
870.000
2.300.000
Invest. Identificado
1.050.000
2.600.000
1.700.000
5.350.000
TR Identificado
52,38%
33,85%
51,18%
42,99%
(=) Lucro


1.000.000
Investi. Total


8.000.000
TR s/ Invest. Total


12,50%
Retomando-se o conceito de Taxa de Retorno pode-se afirmar que esta evidencia o quanto se obtém de retorno obre o ativo. Mas por que sobre o ativo? Afinal, o ativo não representa as aplicações do capital da empresa, uma vez que o Passivo representa o montante de Origens. Isso acaba indicando em que a empresa alocou os seus recursos, por exemplo, se a empresa investiu em máquinas e comprou matéria-prima com dinheiro de capital próprio e investiu em instalações e terrenos com financiamentos de longo prazo todo o seu montante de investimentos pode ser observado olhando-se as contas do seu Ativo (Permanente: Imobilizado – máquinas e instalações e; Circulante: Disponibilidades – Estoques de matéria-prima). Assim sendo, utiliza-se no cálculo do retorno todo o ativo como representação dos investimentos da empresa.
Como explica Martins (1990: 190):
A taxa de Retorno identificada evidencia o quanto cada produto conseguiu gerar de Margem de Contribuição (2ª) sobre o Investimento que é Realmente seu. Na média, houve retorno de 43%, o que nos fornece a visão de que o produto M está participando bastante na redução dessa taxa; é o de menor retorno, estando L e N quase na mesma situação. O retorno global é de 12,5%, após cômputo dos custos, despesas e investimentos comuns aos três produtos (MARTINS, 1990).
Para o cálculo da Taxa de Retorno do Quadro 9 utilizou-se o seguinte raciocínio: obtenção da margem de retorno (contribuição) de cada produto fabricado pela empresa em relação ao capital investido. Assim tem-se que:

Portanto, apenas o produto L possibilita a empresa um retorno de mais de 52% sobre o seu capital investido.
O segundo tipo de cálculo envolveu o lucro e o investimento total. Assim:
Trata-se então de uma abordagem gerencial, onde, se a empresa quer vender mais, além de manter o seu lucro com o menor capital investido, deve utilizar o produto L. Isso garante menor investimento e maior retorno sobre o capital total.
Não é possível obter um quadro com maior exatidão do que o Quadro 9, pois como define Martins (1990) outros critérios poderiam levar a decisões erradas e, por exemplo. Se fosse elaborada uma distribuição dos custos e despesas comuns, bem como dos investimentos, de forma proporcional à participação de cada produto no faturamento total. Este poderia ser o resultado:
Quadro 10
Cidade ou Município
Ponto L
Ponto M
Ponto N
Total
Lucro”
R$ 225.000
R$ 334.000
R$ 441.000
R$ 1.000.000
Investimento Total
R$ 1.712.500
3.713.000
2.574.500
R$ 8.000.000
Taxa de Retorno
13,1%
9%
17,1%
12,5%
Fonte: (MARTINS,1990: 191).
Segundo Eliseu Martins quanto ao exemplo acima:
Se a situação de M continua a mesma, de pior desempenho, aparece agora uma disparada vantagem do N sobre o L, o que era verdadeiro no Quadro 9; e de fato essa vantagem só ocorreu em função do critério de rateio; tivéssemos distribuído com outra base e teríamos posições diferentes.
É de se notar que montamos o quadro acima com o rateio apenas dos valores comuns, o já é um grande passo. Normalmente se utiliza de forma incorreta, o rateio inclusive das instalações e outros investimentos plenamente identificados com determinados produtos. Não raro, rateiam-se inclusive custos variáveis ou fixos que são visivelmente pertencentes a um ou mais produtos, e não a todos (MARTINS, 1990).
No livro de Eliseu Martins aparecem outras finalidades da Taxa de Retorno e sobre a aplicação da Margem de Contribuição para o cálculo dessa taxa. Mas aqui restringimo-nos aos cálculos acima, uma vez que nosso objetivo é apenas de apresentar e pincelar os tópicos vistos ao longo do curso de Graduação da Universidade de Mogi das Cruzes visto pela turma formada no ano de 2008.


Bibliografia
MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. São Paulo: Atlas, 1990.



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