sexta-feira, 17 de junho de 2016

Aspectos iniciais da análise de balanços e da análise vertical e horizontal

Normalmente o objeto de estudo dos estudantes de Ciências Contábeis e Administração são as empresas de grande porte e suas ações negociadas em bolsas de valores. São as chamadas Sociedades Anônimas, onde o capital é dividido em ações, frações iguais em poder de seus acionistas e do público geral que as comprar.

Nessas empresas não existe a figura de um único dono isolado, mas sim, há a presença de vários donos, que por sua vez se reúnem em assembleia para decidir quem dentre eles vais controlar a empresa. Ao contrário, em empresas pequenas ou mesmo os de médio porte são bem claras a figura de um dono ou proprietário, que sobre o qual, fica toda a responsabilidade dos atos e atividades empresariais.
Essas sociedades por terem suas ações à venda no mercado de ações e quem as compra as utiliza ou para ter rendimentos ou as revendendo, são obrigadas a demonstrar e publicar o que elas fazem com os recursos (capital) que lhe foram confiados. É a prestação de contas da sociedade empresarial a todos os stakeholders. As empresas de pequeno porte ou limitadas e que não apresentem o faturamento mínimo proposto pelo governo não são obrigadas a gerar e publicar os demonstrativos e outras informações contábeis – embora, devem elaborá-los e manter toda a escrituração contábil.
Toda sociedade anônima com capital aberto precisa se submeter a uma auditoria independente. A auditoria tem a função de fiscalizar os atos da empresa no que tange à parte financeira, econômica e contábil e de verificar e sugerir melhorias com base nos documentos vistoriados.
E por se tratar de recursos de acionistas e investidores, bem como toda uma comunidade de interessados nos resultados da empresa (governo, sociedade, meio ambiente, fornecedores, bancos, empregados, acionistas) e auditoria exigida não pode ser interna. No caso de uma auditoria interna, embora o fato de serem utilizadas técnicas de auditoria, amostragens, delimitação do objeto, não seria o mesmo tipo de auditoria.
Além da auditoria interna e independente existe ainda a figura da Comissão de Valores Mobiliários – CMV, uma autarquia do governo que como se fosse um segundo fiscal em favor dos acionistas, é responsável por analisar, pedir esclarecimentos e até proibir a nomeação de determinado diretor se tiver conhecimento de que este ato será prejudicial aos interesses dos stakeholders.
Mas como é possível saber se a empresa anda bem com a sua saúde financeira? Como é possível afirmar ao investidor se a empresa em que este colocou seu capital tem retorno ou até mesmo se tem uma boa situação financeira capaz de garantir suas dívidas para com terceiros?
Pois bem, pela análise das demonstrações contábeis da empresa e, por meio de comparações com os dados de outras empresas de mesmo ramo é possível formular inferências que ajudarão na tomada de decisões.

      OS OBJETIVOS DA ANÁLISE DE BALANÇOS

Cada empresa deve saber como está trabalhando com suas atividades e as ações dos concorrentes diretos e do resto do mercado. Deve saber como se comportar para poder chegar ao seu lucro. Por exemplo, se a empresa planeja chegar ao lucro vendendo agasalhos deve fazê-lo antes da chegada do verão.
É preciso ter em mente que o mercado está em constante fase de transição e de que os produtos que hoje são aceitos no mercado poderão sofrer os efeitos de novos e mais modernos e melhores bens em muito pouco tempo. As fotografias antes, por exemplo, surgiam com a revelação de filmes, produzidos geralmente pela Kodak ou Fugi. Na atualidade câmeras são digitais e as fotos são instantâneas, o que dispensa o uso de filmes. Mas e daqui a dez ou vinte anos, como as máquinas de tirar fotografias serão?
O que as empresas devem fazer para continuarem no mercado? A resposta é não apenas investir no que no presente momento é dito como sucesso, mas também, no que pode vir a se tornar tendência no futuro próximo.

      Graus de alavancagem

Um grau de alavancagem pode ser entendido como o índice que determina quanto que um grupo de contas (receitas, lucros) aumenta ou diminui quando outro grupo aumenta ou também diminui. Por exemplo, se ao compararmos o aumento do lucro contra o aumento da receita e constatamos que o primeiro cresceu, por exemplo, 6% a mais do que o segundo, dizemos que há um grau de alavancagem, mais exatamente, expresso por 1,06.
Mas em que se utiliza isso, afinal de contas? Nos tópicos a seguir serão apresentados cada um destes graus de alavancagem, bem como as análises possíveis diante de sua utilização quanto aos problemas propostos.



      Grau de alavancagem operacional

O grau de Alavancagem operacional – GAO – representa quanto que a empresa é eficiente operacionalmente, isto é, quanto gera de resultados positivos excluindo-se os gastos com juros. Segundo Gitman (2000), “a alavancagem operacional resulta da existência de custos operacionais fixos na estrutura de resultados da empresa.
Empregando a estrutura da tabela podemos definir alavancagem operacional como a possibilidade de uso dos custos operacionais fixos para ampliar os efeitos de variações de vendas sobre o lucro da empresa antes de juros e imposto de renda” (GITMAN, 2000, p. 437). E por definição, a fórmula do grau de alavancagem operacional é dada por:



Conforme podemos entender, pela equação verificamos o quanto da variação percentual do lucro antes dos juros contra a receita operacional líquida. Na conta ROL estão os resultados das vendas e dos serviços da empresa.

Sempre que a variação percentual do LAJIR resultante de uma variação percentual nas vendas é maior do que a variação percentual das vendas, ocorre alavancagem operacional. Isso significa que, sempre que o GAO é maior que um, há alavancagem operacional (GITMAN, 2000, p. 435).
E apenas para finalizar esse grau de alavancagem podemos afirmar que o mínimo para que a empresa venha a ter um resultado satisfatório deve ser de 1,00, abaixo disso não compensa para a empresa, pois definitivamente ela não conseguiria aproveitar cem por cento de suas receitas.

      Grau de Alavancagem Financeira

Até o momento vimos que embora uma empresa possa vender muito, em decorrência de seus custos podemos não obter um lucro operacional tão elevado. No nosso exemplo, a empresa havia aumentado seus resultados tanto na parte das receitas líquidas quanto no lucro antes dos juros e do imposto de renda, mas o aumento no faturamento não foi contínuo, com perdas operacionais.
Sob a ótica da Alavancagem financeira, por outro lado, avalia-se a parte seguinte dos grupos da Demonstração de Resultados, mais precisamente, da relação existente entre os aumentos do lucro por ações e do lucro antes dos juros e do imposto de renda. Segundo Gitman (2000):
A alavancagem financeira resulta da presença de custos financeiros fixos na estrutura de resultado da empresa. Por meio da estrutura proporcionada pela tabela anterior, podemos definir a alavancagem financeira como o uso de custos financeiros fixos para ampliar os efeitos de variações do lucro antes dos juros e imposto de renda sobre o lucro por ação. Os dois custos financeiros fixos que podem ser encontrados na demonstração de resultados são os juros de dívidas e os dividendos de ações preferenciais. Esses encargos devem ser pagos, qualquer que seja o montante de LAJIR disponível para saldá-los (GITMAN, 2000, p. 441).
A alavancagem financeira proporciona ao gestor da empresa saber se a empresa está ou não perdendo dinheiro com encargos financeiros (custos fixos financeiros) e com o imposto de renda, que por sua vez, afetam o resultado por ação de capital dos sócios e acionistas. Disso temos o Grau de Alavancagem Financeira – GAF – explicado a seguir por Gitman (2000), “O grau de alavancagem financeira (GAF) é o valor numérico da alavancagem financeira da empresa.
Seu cálculo é muito parecido com o do grau de alavancagem operacional... a seguinte equação apresenta um enfoque à obtenção do GAF” (GITMAN, 2000, p. 441).
O grau de alavancagem financeira é obtido quando estabelecemos a relação entre a variação do lucro por ação LPA com o lucro antes dos juros e do imposto de renda LAJIR. No nosso exemplo, o LPA em 2005 era de R$ 1,16, ao passo que ano seguinte passou a R$ 1,18, um aumento de 1,68%.
E como já destacamos a variação do LAJIR, de 9,37, nós já podemos atribuir essas variações à equação do GAF, a saber:



O raciocínio é semelhante ao que aplicamos na fórmula do GAO. Assim, entende-se que se o aumento do lucro por ação for inferior ao aumento do resultado do lucro antes dos juros e imposto de renda teremos um resultado desfavorável. Vale lembrar aqui que entre o LAJIR e o LPA há as despesas com os juros dos empréstimos tomados e o imposto de renda. Só depois disso é possível definir o valor do resultado da organização, isto é, do lucro líquido do exercício. Resumidamente podemos entender que para cada aumento de R$1,00 no LAJIR apenas poderemos esperar um aumento de apenas R$0,18 no lucro por ação e logicamente esse resultado é desfavorável para a empresa. Para completar essa conclusão lançamos mão mais uma vez da obra de Gitman (2000):

O aspecto mais importante a destacar, quando se usa a análise LAJIR – LPA, é o fato de que essa técnica tende a se concentrar na maximização do lucro e não da riqueza do proprietário. O uso de um enfoque que visa à maximização do LPA ignora o risco de maneira geral. Se os investidores não exigissem prêmios por risco (retornos adicionais) à medida que a empresa aumentasse a proporção de capital de terceiros em sua estrutura de capital, uma estratégia envolvendo a maximização do LPA também maximizaria a riqueza dos proprietários. Mas, como prêmios por risco aumentam com elevações da alavancagem financeira, a maximização do LPA não assegura o retorno (LPA) e o risco (por meio do retorno exigido) em um esquema de avaliação compatível com a teoria de estrutura de capital anteriormente exposta (GITMAN, 2000, p. 469).
Para efeitos didáticos apenas consideraremos um resultado satisfatório (sem perdas) quando o grau de alavancagem for igual ou superior a 1,00. No que tange ainda a relação LAJIR e LPA podemos apresentar mais algumas considerações, conforme Gitman (2000), “Quando se interpreta a análise LAJIR – LPA, é importante considerar o risco de cada alternativa de estrutura de capital.
Graficamente, esse risco pode ser encarado em termos de duas medidas: o ponto de equilíbrio financeiro e o grau de alavancagem financeira: quanto mais alto o ponto de equilíbrio financeiro e mais inclinado à linha de estrutura de capital, maior o risco financeiro. Uma avaliação adicional do risco pode ser feita com a utilização de índices.
Conforme aumenta a alavancagem financeira (medida pelo índice de endividamento), e espera-se uma queda correspondente da capacidade da empresa de fazer os pagamentos de juros programados (medida pelo índice de cobertura de juros) (GITMAN, 2000, p. 469). Em sua observação Gitman toca em dois assuntos muito importantes referentes à Análise do LAJIR – LPA quanto aos riscos eminentes da escolha desta ou daquela estrutura de capital.
Vimos em Planejamento Financeiro e Orçamento que o grande gargalo para a administração da empresa é o capital de giro, que por ser de curto prazo apresenta menos tempo para ser criado ou pago. Na gestão financeira de capital e de investimentos de longo prazo, por outro lado nosso foco como gargalo e fonte de risco deixa de ser o capital de giro e passa a ser a alternativa da estrutura de capital da empresa.

      Grau de Alavancagem Total

Ao observar uma demonstração do Resultado do Exercício de dois anos consecutivos, com suas variações percentuais, verifica-se claramente que os graus de alavancagem operacional e financeira podem ser combinados em um único índice, capaz de agregar em sua relação os grupos desde as receitas líquidas totais até o resultado por ação da organização. Essa combinação forma o grau de Alavancagem Total, que segundo nos explica Gitman (2000):
Também podemos avaliar o efeito combinado da alavancagem operacional e da alavancagem financeira sobre o risco da empresa usando um enfoque semelhante ao empregado para desenvolver os conceitos individuais de alavancagem. Esse efeito combinado, ou alavancagem total, pode ser definido como o uso de custos fixos, tanto operacionais quanto financeiros, para ampliar o efeito de variações do faturamento sobre o lucro por ação da empresa. A alavancagem total pode ser vista, portanto, como o impacto total dos custos fixos presentes em sua estrutura operacional e financeira (GITMAN, 2000, p. 443).
Como foi indicado, o grau de alavancagem total (GAT) relaciona um espaço maior entre os grupos de contas da demonstração de resultados. Em nome, diz-se que esse indicador de alavancagem busca estabelecer o tamanho da eficiência ou deficiência tanto operacional quanto financeira, uma vez que agrega seus conceitos.
Deste modo, como nos ensina Gitman (2000), quanto ao Grau de Alavancagem Total “reflete o impacto combinado das alavancagens operacional e financeiro na empresa. Graus elevados de alavancagem operacional e financeira fazem com que a alavancagem total seja alta. O contrário também é verdade.
A relação entre alavancagem operacional e financeira é multiplicativa, e não aditiva. A relação entre o grau de alavancagem total (GAT) e os graus de alavancagem operacional (GAO) e financeira (GAF) é data pela multiplicação de GAO por GAF” (GITMAN, 2000, p. 444). O grau de alavancagem total então, pelo que foi apresentado, é obtido relacionando-se a variação nas receitas operacionais líquidas da empresa contra o lucro líquido por ação de capital. Tem-se com isso a seguinte fórmula para o GAT:



E ainda utilizando as explicações de Gitman (2000), “Sempre que a variação percentual do LPA resultante de uma variação percentual das vendas e maior que essa variação, há alavancagem total. Isso quer dizer que, enquanto o GAT for maior que um, ocorrerá alavancagem total” (GITMAN, 2000, p. 443).

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