Conforme
traz a literatura:
A
transferência dos fatores de produção de um bem A para produzir um
bem B implica um custo de oportunidade que é igual ao sacrifício de
se deixar de produzir parte do bem A para se produzir mais do bem B.
O custo de oportunidade também é chamado de custo alternativo, por
representar o custo da produção alternativa sacrificada, ou custo
implícito. Por exemplo, no diagrama anterior , para aumentar a
produção de alimentos de 30 para 45 toneladas (passar do ponto B
para o C), o custo de oportunidade em termos de máquinas é igual a
5 mil, que é a quantidade sacrificada desse bem para se produzir
mais 15 toneladas de alimentos [VASCONCELLOS & GARCIA, 2002].
Conforme o
autor citado acima, é de esperar que os custos de oportunidade sejam
crescentes, já que quando aumentamos a produção de um bem, os
fatores de produção transferidos dos outros produtos se tornam cada
vez menos aptos para a nova finalidade, ou seja, a transferência vai
ficando cada vez mais difícil e onerosa, e o grau de sacrifício vai
aumentando. Esse fato justifica o formato côncavo da curva de
possibilidades de produção: acréscimos iguais na produção dos
alimentos implicam decréscimos cada vez maiores na produção de
máquinas, como mostra o gráfico Erro: Origem da referência não encontrada.
O custo de
oportunidade também é usado na visão contábil, uma vez que esta o
utiliza para avaliar investimentos (se seriam viáveis ou não). A
diferença entre Economia e Contabilidade consta mais nas
perspectivas teóricas e focos das situações analisadas. Por
exemplo, um grau de alavancagem econômico tem um conceito teórico
diferente de um contábil. Em Economia o Lucro é uma parcela de
custos, ao passo que para a contabilidade é o resultado positivo
quando se retira todos os custos e despesas das receitas. Os
contadores medem os débitos e créditos das empresas e os dados
gerados são usados pela Economia para diversas utilidades, desde a
análise de inflação à definição do Produto Interno Bruto –
PIB1
– de um País, Estado ou município.
A
contabilidade pública determina o patrimônio dos entes públicos,
tal como por exemplo, o Orçamento da União, a dívida pública dos
Estados e as variações dos investimentos. A Economia mede a
velocidade do mercado e a sua racionalidade (metodologia). A Economia
mensura a empresa, o salário, o poder aquisitivo das famílias e o
lucro, ao passo que a contabilidade mira o patrimônio de uma
entidade, que por sua vez engloba as movimentações de uma empresa,
bem como o salário de uma pessoa física (para cálculos de IR, por
exemplo), para a determinar prejuízo.
Deslocamento da curva de possibilidades de produção
O
deslocamento da Curva de Possibilidades de Produção (CPP) para a
direita ou para cima indica que o País está crescendo, pois como
vimos, essa seria uma situação “impossível” por limitações
tecnológicas, pelo menos no curto prazo. Como Vasconcellos e Garcia
(2002) explicam:
Isso
pode ocorrer fundamentalmente tanto em função do aumento de
quantidades físicas de fatores de produção quanto em função de
melhor aproveitamento dos recursos já existentes, o que pode ocorrer
com o progresso tecnológico, maior eficiência produtiva e
organizacional das empresas e a melhoria no grau de qualificação da
mão-de-obra. Desse modo, a expansão dos recursos de produção e os
avanços tecnológicos, que caracterizam o crescimento econômico,
mudam a curva de possibilidades de produção para cima e para a
direita, permitindo que a economia obtenha maiores quantidades de
ambos os bens [VASCONCELLOS & GARCIA, 2002].
Assim
podemos citar como exemplo de fator que permitira tal mudança a
descoberta de uma nova jazida de petróleo. Então aplica-se uma nova
tecnologia, há aumento de produção e mais mão de obra é
preparada e começa a trabalhar, fazendo girar a economia.
É
possível numa economia haver crescimento positivo ou negativo, sedo
que há o segundo caso quando há uma diminuição na capacidade
produtiva. Por exemplo, o esgotamento de uma reserva de petróleo ou
o rompimento com um fornecedor internacional de matérias-primas.
Sempre o crescimento se mantém negativo ao longo de dois trimestres
consecutivos dá-se o nome de recessão, um indicador que sempre vem
acompanhado de desempregos em massa num ou em vários setores da
economia.
Funcionamento de uma economia de mercado: fluxos reais e monetários
Para
explicar o funcionamento de uma economia de mercado utilizamos mais
uma vez a obra de Vasconcellos e Garcia (2002), que abordam o tema
isolando qualquer fluxo que não venha do próprio mercado –
excluindo aqui aqueles em que há o domínio ou regulamento do
Estado, por exemplo. Segundo os autores:
Para se
entender o funcionamento de um sistema econômico vamos supor uma
economia de mercado que não tenha interferência do governo e não
tenha transações com o exterior (economia fechada). Os agentes
econômicos são proprietários dos fatores de produção e os
fornecem às unidades de produção (empresas) por meio do mercado
dos fatores de produção. As empresas, por meio da combinação dos
fatores de produção, produzem bens e serviços e os fornecem às
famílias pro meio do mercado de bens e serviços [VASCONCELLOS & GARCIA, 2002],
conforme a figura a seguir:
A taxa de
importações e exportações pode ser modificada pelo Governo como
forma de controle cambial. Quando está muito elevada, pode-se
diminuí-la e com isso o País poderá importar ou exportar mais.
Outra forma diminuição da taxa e do preço é pelo movimento do
próprio mercado e em sua essência: da moeda. Quando há muita
oferta de um bem ou serviço o preço deste tende a cair, e o
contrário é verdeiro, ou seja, muita demanda leva o preço a se
elevar.
Disso
temos o entendimento de Vasconcellos e Garcia (2002):
Como
pode ser observado, famílias e empresas exercem um duplo papel. No
mercado de bens e serviços, as famílias demandam bens e serviços,
enquanto as empresas os oferecem; no mercado de fatores de produção,
as famílias oferecemos serviços dos fatores de produção (que são
de sua propriedade), enquanto as empresas os demandam.
Porém, ao
essa modificação nos preços e nas taxas, há prejuízo para um dos
atores no mercado. Quem exporta acaba tendo que vender por preços
menores, sendo que quem trabalha com importações ganha ao pagar
menos dólares. Não há como beneficiar os dois lados nas operações
com fornecedores ou clientes externos. Quanto mais vendem dólares,
mais o preço cai e menor fica a cotação da moeda estrangeira (lei
da demanda: comprar pelo menor preço).
No
entanto, paralelamente ao fluxo temos um fluxo monetário da economia
[VASCONCELLOS & GARCIA, 2002].
No
mercado, o comprador busca sempre o menor preço e a maior quantidade
de mercadorias, ou seja, maximiza as suas compras para ter lucros. No
mercado de câmbio, os ofertantes acertam que, por exemplo, 2,695
reais compram um dólar. Isso é o preço de câmbio e pode ser
aumentado ou diminuído pelo Governo do País.
Unindo os
fluxos real e monetário da economia temos, conforme Vasconcellos e
Garcia (2002) o chamado Fluxo circular de renda, expresso no diagrama
a seguir:
Definição de bens de capital, de consumo, intermediários e fatores de produção
Podemos de
forma sintética usar os conceitos a seguir:
- Bens de capital: máquinas, equipamentos e instalações (são bens finais);
- Bens de consumo: mercadorias duráveis (geladeira, por exemplo) e não duráveis (alimentos);
- Bens intermediários: matérias-primas, componentes e insumos e;
- Fatores de produção: trabalho humano, capacidade empresarial, terra, capital e tecnologias.
Verifica-se
que em cada um dos mercados atuam conjuntamente as forças da oferta
e da demanda, determinando o preço [VASCONCELLOS & GARCIA, 2002].
Assim, como explicam os autores citados, no mercado de bens e
serviços formam-se os preços dos bens e serviços, enquanto no
mercado de fatores de produção são determinados os preços dos
fatores de produção – da nossa listagem anterior. Assim, conforme
Vasconcellos e Garcia (2002):
Esse
fluxo, também chamado de fluxo básico, é o que se estabelece entre
famílias e empresas. O fluxo completo incorpora o setor público,
adicionando-se o efeito dos impostos e dos gastos públicos ao fluxo
anterior, bem como o setor externo, que inclui todas as transações
com mercadorias, serviços e o movimento financeiro com o resto do
mundo [VASCONCELLOS & GARCIA, 2002].
Partindo
para a literatura definimos as seguintes características de cada
item:
Os bens de
capital são aqueles utilizados na fabricação de outros bens, mas
que não se desgastam totalmente no processo produtivo. Vasconcellos
e Garcia (2002) utilizam como exemplo as máquinas , os equipamentos
e as instalações, por serem usados para a produção mas que nunca
ficam obsoletos integralmente, embora seu desgaste seja contabilizado
com a depreciação anual (por exemplo, uma máquina industrial
contabilmente leva dez anos para ficar obsoleta, logo, tem
depreciação expressa no Balanço de 10% ao ano). Como são
patrimônio da empresa são classificados no ativo permanente
imobilizado e uma das características é a de contribuir para a
melhoria da produtividade da mão-de-obra.
O segundo
item do grupo – o dos bens de consumo – destina-se diretamente ao
atendimento das necessidades humanas, apresentando durabilidade que
pode ser alta (bens duráveis)ou baixa (bens de consumo). Na
contabilidade utiliza-se a ideia do prazo de duração ou vida útil
destes itens para classificá-los, sendo que por exemplo, um veículo
é um bem de consumo durável, pois existirá trabalhando para o
consumidor final ou empresa por vários anos até perder a sua
capacidade de produção ou serviço e por isso, é registrado como
ativo imobilizado. Em contrapartida, materiais para consumo, limpeza
e manutenção são geralmente para uso imediato e são consumidos
rapidamente, além de apresentarem valor de aquisição baixo. Para
itens como líquidos de limpeza, clipes de papel, cartuchos para
impressoras utiliza-se a classificação de despesa para uso ou
consumo.
Os bens
intermediários, por sua vez, são aqueles que são transformados ou
são melhorados (com relação a valores) durante o processo
produtivo dos bens ou serviços e que são consumidos totalmente. São
exemplos as matérias-primas para a confecção de veículos
(ferragens, parafusos), que durante a produção não são
integralmente utilizadas e são transformadas em produtos a serem
comercializados. Conforme Vasconcellos e Garcia (2002),
diferenciam-se dos bens finais, que são vendidos para consumo ou
utilização final e são bens de capital, pois não são totalmente
consumidos na produção, os seja, são bens finais.
O último
item da lista, o dos fatores de produção, que também são chamados
de recursos de produção da economia, são constituídos pelos
recursos humanos (advindos da capacidade física e intelectual), além
dos bens naturais, capital e a tecnologia.
Cada um
destes fatores tem um custo, a saber:
Fator
de Produção
|
Tipo
de Remuneração
|
---|---|
Trabalho
|
Salário
do trabalhador e todos os encargos envolvidos.
|
Capital
|
Juros
sobre o capital emprestado ou tomado em uma instituição
financeira durante um determinado período de tempo e dentro de
uma taxa pré-determinada, a juros simples ou compostos.
|
Terra
|
Aluguel
ou arrendamento do terreno.
|
Tecnologia
|
Royalties
sobre a técnica de produção ou dos direitos para utilizá-la.
Ex.: parcela de direito dos Estados na exploração do Petróleo,
utilização de receitas, sistemas e marcas para a venda de
lanches de “marca”.
|
Capacidade
empresarial
|
O
lucro ou percentual sobre o caixa líquido gerado das empresas
(lucro = receitas > despesas). Sob este aspecto, um empresário
ao abrir sua empresa almeja ganhar mais dinheiro do que gastar.
|
Como se
observa, há aqui uma diferenciação conceitual de lucro da
Contabilidade para a Economia. Uma vez que a contabilidade considera
que o lucro é o retorno de um investimento (gasta-se 1x para
produzir alguma coisa que será vendida por 2x e isso trará retorno
de 1x).
Argumentos positivos contra normativos
Em
Economia, argumentos normativos são aqueles planejamentos,
argumentos ou opções que objetivam a definição de valor sobre
alguma coisa. Por exemplo, utilizamos de argumento normativo quando
supomos que “o preço da gasolina não deve subir”. O resultado
final poderá ser bom (confirmando a hipótese) ou mau (havendo
aumento do preço da gasolina).
Conforme
definem Vasconcellos e Garcia (2002):
A
Economia é uma ciência social e utiliza fundamentalmente uma
análise positiva, que deverá explicar os fatos da realidade. Os
argumentos positivos estão contidos na análise que não envolve
juízo de valor, estando esta estritamente limitada a argumentos
descritivos, ou medições científicas. Ela se refere a proposições
básicas, tipo se A, então B. Por exemplo, se o preço da gasolina
aumentar em relação a todos os outros preços, então a quantidade
que as pessoas irão comprar de gasolina cairá. É uma análise do
que é [VASCONCELLOS & GARCIA, 2002].
Argumentos
positivos são, portanto, as bases para a escolha das políticas mais
apropriadas para a economia de um país. Por exemplo, se o
administrador político quer aumentar a renda da população pode
começar por aumentando os salários dos trabalhados (atuando sobre o
salário mínimo). No entanto, se a economia estiver em plena
capacidade de produção, tal medida utilizada no exemplo acarretará
em maior custo da mão-de-obra e em consequência, virá o desemprego
pois muitos empregadores não suportarão esse acréscimo nos custos.
Assim sendo, os argumentos positivos servem para se obter o melhor
caminho para se alcançar os objetivos melhores. Disso tem-se a ideia
de política positiva.
Nesse
aspecto a Economia se aproxima de certa forma da Física e da
Química, pois, segundo Vasconcellos e Garcia (2002), por serem todas
virtualmente isentas de juízo de valor. Conforme os autores citados,
em Economia, no entanto, há o problema do comportamento das pessoas,
que diferentemente de células ou de materiais, apresentam-se
instáveis perante situações estranhas. E é nesse sentido que são
definidos os argumentos normativos, análise que contem implícita ou
explicitamente juízo de valor sobre alguma medida econômica. No
exemplo do preço de gasolina, que deve subir, é expressado um juízo
de valor (isto é, se o fato é uma coisa boa ou má.
Suponha
por exemplo, que desejemos uma melhoria na distribuição de renda do
país. É um julgamento de valor em que acreditamos. O administrador
de política econômica (também chamado de policymaker) dispõe de
algumas opções para alcançar esse objetivo (de aumentar salários,
combater a inflação, criar empregos etc.). A Economia Positiva
ajudará a escolher o instrumento de política econômica mais
adequado. Se a economia está próxima da plena capacidade de
produção, aumentos de salários, por encarecerem o custo da
mão-de-obra, podem levar a um aumento de desemprego, isto é, o
contrário desejado quanto à melhoria na distribuição de renda.
Esse é um argumento positivo, indicando que aumentos salariais,
nessas circunstâncias, não constituem a política mais adequada [VASCONCELLOS & GARCIA, 2002].
Dessa
forma, a Economia Positiva pode ser utilizada como base para a
escolha da política mais apropriada [VASCONCELLOS & GARCIA, 2002],
verificando se uma medida boa de um lado não pode com o decorrer do
tempo apresentar um resultado contrário ao planejado. No entanto nem
sempre uma ação politicamente popular e correta tem resultado
indevido. Por exemplo, temos ainda o caso do aumento de preços da
gasolina. Segundo o argumento positivo, se a gasolina aumentar,
diminuirão os consumidores.
Bibliografia
FIGUEIREDO
&CHEIBUB, 1986: FIGUEIREDO, Marcus; CHEIBUB, Angélica Maria,
Avaliação política e avaliação de políticas: um quadro de
referência teórica, set./dez 1986
FRIEDEN, 2006:
FRIEDEN, Jeffry A. (Tradução: Vivian Mannheimer), Capitalismo
global: História econômica e política do século XX, 2006
VASCONCELLOS &
GARCIA, 2002: VASCONCELLOS, Marco Antônio S.; GARCIA, Manuel E.,
Fundamentos de Economia, 2002
1O
PIB é a soma de tudo o que foi produzido e comercializado ao longo
do ano. Pode-se medi-lo analisando-se as empresas, o mercado, os
setores e compará-lo com o de anos ou períodos anteriores.
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