Uma coisa
que descobri depois que passei a trabalhar em escritório de
contabilidade é que apesar de nós, profissionais que somos, nos
preocuparmos em assessorar o cliente sobre a importância de não
misturar despesas pessoais com as da empresa e ter controle
documentando tudo o que é pago, os clientes nem sempre (quando
nunca) nos escutam e fazem o que querem. Assim vai pro ralo o
princípio da Entidade. Então o quê devemos fazer para nos precaver
de possíveis problemas? É isso que mostraremos aqui.
Como eu
disse, os clientes na maioria das vezes estão muito mais preocupados
em quanto deverão pagar de imposto (quando não é no recálculo) do
que se os dados que eles nos enviam são úteis. Chega ao ponto de
que um dia, no escritório, um cliente nos perguntou porque que ele
tem pagar impostos, apresentando como pondo de comparação que
segundo ele, na outra contabilidade onde ele era cliente, o então
contador não cobrava. O sujeito fez um bem bolado de forma que o
cliente apenas pagava os honorários e pronto. Não tinha Simples
Nacional, INSS, FGTS, nada!
Disso nós
pensamos: se o cliente tinha funcionários, como que era pago o INSS?
E o DAS, afinal, é cobrado sobre o faturamento mensal? Será que o
honorário era grande o suficiente para cobrir esses tributos? Claro
que não, era simplesmente uma armação. Como o cliente passou a ser
do nosso escritório descobrimos que várias obrigações acessórias
não haviam sido entregues, bem como constava que a empresa não
tirava notas de vendas ou serviços, além de estar com pendências
sérias na perante a Previdência Social.
Mas até
aqui estamos falando de problemas do escritório. Mas e quando é o
cliente que faz tudo errado? Sério, já vi cliente que se recusava a
mandar o movimento dos pagamentos de despesas e extrato bancário
porque simplesmente não queria que nós soubéssemos de seu caixa
dois. E olha que não era nada disso que você deve estar pensando:
tratava-se de uma empresa de transportes de cargas e o caixa dois que
o cliente achava ser eram os saldos que entravas quando se subtraía
as retiradas feitas do caixa para pagamento de despesas com cachorros
das vendas desses animais. É, era comércio de cães numa
transportadora.
Quando o
cliente manda pelo menos as notas fiscais e as informações sobre o
histórico mensal dos empregados ainda dá para se fazer uma
contabilidade “nas cochas”. Se tiramos um Balancete temos lá um
valor de caixa, ativos permanentes, contas a pagar referente
fornecedores, salários e e tributos, além de um capital. Ao final
fechamos o exercício com o que temos. Não é o correto mas é o que
dá para fazer quando o cliente não coopera.
Então
vamos a algumas dicas de como evitar problemas futuros:
Peça
sempre declarações por escrito do cliente detalhando as despesas e
como foram pagas. Isso é muito útil quando recebemos apenas o
extrato bancário. Pense no seguinte: você não é obrigado a ter
bola de cristal para saber o que foi comprado, sobretudo se sabe que
geralmente é algo para os proprietários da empresa e pago com
dinheiro da conta-corrente.
A seguir
mostramos um exemplo do que pode conter na declaração, que deve,
como frisamos, ser feita pelo próprio cliente. Isso lhe dá a
garantia de que ele tem a responsabilidade por não ter entregue a
documentação idônea.
DECLARAÇÃO
DE PAGAMENTO DE DESPESA
Declaramos
para os devidos fins que a NOME DA SUA EMPRESA pagou, na data
supracitada, a importância de R$ 0,00 (valor por extenso) a NOME
DA PESSOA FÍSICA OU JURÍDICA, CNPJ Nº 00.000.000/0000-00, CPF
Nº 000.000.000-00, situada na Rua/Avenida/Estrada, nº 000, Bairro,
Município - UF, CEP: 000.000-000, decorrente ao serviço contratado
de descrição detalhada do serviço tomado, realizado em
XX/XX/20XX.
Sem
mais, firmo o presente.
Santa
Isabel, SP, XX de XX de 20XX.
_____________________________________________
NOME
DO REPRESENTANTE LEGAL DA EMPRESA
RG:
CPF:
Quando
encerrar o exercício e emitir os livros contábeis, mande para o
cliente a Carta de Responsabilidade da Administração. Trata-se de
mais um tipo de declaração, mas esta é para toda a documentação
entregue ao longo do ano. Nela o cliente isenta o escritório de
eventuais erros de lançamentos por culta dele mesmo, ao não ter
entregue corretamente o que deveria, bem como ter informado coisas
incompletas.
A seguir
apresentamos um modelo dessa carta de administração, que está
inclusive na norma NBC TG 1000.
Carta
de Responsabilidade da Administração
(Anexo III incluído pela Resolução CFC n.º 1.457/13)
____________________________________
Local e data
À
Empresa Contábil ou Escritório de Contabilidade Ltda. - ME
CNPJ: 10.881.702/0001-85
Endereço: Rua Conego Bicudo, 170, Centro, Santa Isabel, SP, CEP: 07500-000.
Prezados Senhores:
Declaramos para os devidos fins, como administrador e responsável legal da empresa NOME DA EMPRESA CLIENTE, CNPJ 00.000.000/0000-00, que as informações relativas ao período-base 31/12/2016, fornecidas a Vossas Senhorias para escrituração e elaboração das demonstrações contábeis, obrigações acessórias, apuração de tributos e arquivos eletrônicos exigidos pela fiscalização federal, estadual, municipal, trabalhista e previdenciária são fidedignas.
Também declaramos:
(a) Que os controles internos adotados pela nossa entidade são de responsabilidade da administração e estão adequados ao tipo de atividade e volume de transações;
(b) Que não realizamos nenhum tipo de operação que possa ser considerada ilegal, frente à legislação vigente;
(c) Que todos os documentos e/ou informações que geramos e recebemos de nossos fornecedores, encaminhados para a elaboração da escrituração contábil e demais serviços contratados, estão revestidos de total idoneidade;
(d) Que os estoques registrados em conta própria foram por nós contados e levantados fisicamente e avaliados de acordo com a política de mensuração de estoque determinada pela empresa e perfazem a realidade do período encerrado em 2016;
(e) Que as informações registradas no sistema de gestão e controle interno são controladas e validadas com documentação suporte adequada, sendo de nossa inteira responsabilidade todo o conteúdo do banco de dados e arquivos eletrônicos gerados.
Além disso, declaramos que não existem quaisquer fatos ocorridos no período base que afetam ou possam afetar as demonstrações contábeis ou, ainda, a continuidade das operações da entidade.
Também confirmamos que não houve:
(a) Fraude envolvendo a administração ou empregados em cargos de responsabilidade ou confiança;
(b) Fraude envolvendo terceiros que poderiam ter efeito material nas demonstrações contábeis;
(c) Violação de leis, normas ou regulamentos cujos efeitos deveriam ser considerados para divulgação nas demonstrações contábeis, ou mesmo dar origem ao registro de provisão para contingências passivas.
Atenciosamente,
_______________________________
Empresário Fulano de Tal.
Representante Legal da NOME DA EMPRESA CLIENTE. EPP.
RG: 00.000.000-0
CFP: 000.000.000-00
Mas sempre
vale lembrar que é responsabilidade do profissional de contabilidade
avaliar o que se pode ou não lançar na contabilidade, é claro que
sabemos que algumas vezes os clientes exigem que “recibos e
orçamento ou pedidos de vendas” sejam considerados como documentos
normais (NF, boletos de NF, guias pagas), mas sepre é bom usar a
razão. Não adianta agradar o cliente e se queimar como profissional
contábil depois perante uma possível fiscalização.
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