O
objeto delimita o campo de abrangência de uma ciência, tanto nas
ciências formais quanto nas factuais, das quais fazem parte as
ciências sociais. Na Contabilidade, o objeto é sempre o PATRIMÔNIO de uma Entidade, definido como um conjunto de bens, direitos e de
obrigações para com terceiros, pertencente a uma pessoa física,
a um conjunto de pessoas, como ocorre nas sociedades informais, ou a
uma sociedade ou instituição de qualquer natureza,
independentemente da sua finalidade, que pode, ou não, incluir o
lucro. O essencial é que o patrimônio disponha de autonomia em
relação aos demais patrimônios existentes, o que significa que
a Entidade dele pode dispor livremente, claro que nos limites
estabelecidos pela ordem jurídica e, sob certo aspecto, da racionalidade econômica e administrativa.
O
objeto da contabilidade é o patrimônio, isto é, o conjunto de
bens, direitos e obrigações de uma entidade, que apresente
movimentação e necessite de controle para a sua correta mensuração.
Destaca-se que a entidade é a proprietária desse patrimônio, sendo
que para o caso de entidade formada por pessoa jurídica deve-se
dividir bem o que pertence à pessoa jurídica e ao proprietário da
pessoa jurídica.
O
Patrimônio também é objeto de outras ciências sociais humanas1
– por exemplo, da Economia2,
da Administração3
e do Direito4
– que, entretanto, o estudam sob ângulos diversos daquele da
Contabilidade, que o estuda nos seus aspectos quantitativos e
qualitativos. Desse modo, a Contabilidade busca em sua base o
apreender, no sentido mais amplo possível, e o entender as mutações
sofridas pelo Patrimônio, tendo em mira, por conclusão, muitas
vezes, uma visão prospectiva de possíveis variações. As mutações,
como foi definido amplamente ao longo deste estudo, tanto podem
decorrer da ação do homem quanto, embora quase sempre
secundariamente, dos efeitos da natureza sobre aspectos de sistema
exterior em que a empresa esteja localizada (economia, governo,
concorrência, mudança de vontade e gosto dos clientes e
acionistas).
Por
aspecto qualitativo do patrimônio entende-se a natureza dos
elementos que o compõem monetariamente, como dinheiro ou moeda
corrente no País, valores a receber ou a pagar expressos também em
moeda, máquinas, estoques de materiais ou de mercadorias para
produção, reposição, produção, uso ou consumo etc. A
delimitação qualitativa desce, em verdade, até o grau de
detalhamento que permita a perfeita compreensão do componente
patrimonial, que posteriormente será classificado numa conta, um
grupo de contas, uma categoria econômica, terá valor, vida útil
(se ativo), prazo de recebimento ou pagamento. Assim, quando a
contabilidade fala em “máquinas”, ainda que a empregar um
substantivo coletivo, cuja expressão poderá ser de muita utilidade,
em determinadas análises, basta abrir os registros5
e buscar os dados para saber a que tipo de material se referem
(máquinas industriais, calculadoras, eletrodomésticos, de
urbanismo, para manutenção, tratores, bombas hidrodinâmicas ou
elétricas etc.).
Mas
a Contabilidade, quando aplicada a um patrimônio particular, não se
limitará às “máquinas” como categoria, mas se ocupará de
cada máquina em particular, na sua condição do componente
patrimonial, de forma que não possa ser confundida com qualquer
outra máquina (para tanto a importância de se efetuarem correta e
detalhadamente os registros dos fatos contábeis), mesmo de tipo
idêntico6.
O atributo quantitativo refere-se à expressão dos componentes
patrimoniais em valores, o que demanda que a Contabilidade assuma
posição sobre o que seja “Valor”, porquanto os conceitos sobre
a matéria são extremamente variados7.
Do
Patrimônio deriva o conceito de Patrimônio Líquido, mediante a
equação considerada como básica na Contabilidade:
Bens + Direitos = Obrigações + Patrimônio
Líquido
|
Quando
o resultado da equação é negativo, convenciona-se denominá-lo de
“Passivo a Descoberto”. O Patrimônio Líquido não é uma
dívida da Entidade para com seus.
O
conhecimento que a Contabilidade tem do seu objeto está em constante
desenvolvimento, como, aliás, ocorre nas demais ciências em
relação aos respectivos objetos. Por esta razão, deve-se aceitar
como natural o fato da existência de possíveis componentes do
patrimônio cuja apreensão ou avaliação se apresenta difícil
ou inviável em determinado momento. A isso se completa a flutuação
das legislações que controlam a tributação do patrimônio,
somente a título de exemplo, e as convenções expressas em
resoluções emitidas pelo Conselho federal de Contabilidade. Nessa
situação, há mais passivos do que ativo, bem como, mais despesas e
custos do que receitas. Trata-se de situação de prejuízo. Tal
ocorrência pode ter duas causas: ou a empresa realmente vendeu ou
prestou menos serviços do que gastou para obtê-los (compras,
tributos, folha de pagamento, serviços tomados, despesas
administrativas) ou, opcionalmente e o que não é correto, comprou
muitos materiais (mercadorias, produtos, matérias-primas, para uso
ou consumo), além da folha de pagamento e na hora da venda ou
serviço prestado o fizeram sem notas fiscais competentes, entregando
aos seus clientes aqueles INÚTEIS RECIBINHOS, PEDIDOS DE COMPRAS,
ORÇAMENTOS OU OUTROS PAPEIS SEM VALOR FISCAL.
Isso
não é registrado pela Contabilidade, logo, não há essas receitas,
não é registrada entrada de recursos em caixa e o resultado é
prejuízo e em casos extremos de falta de visão administradora e
empreendedora, patrimônio líquido negativo.
É
importantíssimo lembrar que o conceito de Patrimônio é
juridicamente tratado e, dessa forma, a Contabilidade deve estudar o
Patrimônio nos termos em que o Direito o define e o Direito deve
tratar o Patrimônio de forma compatível.
1A
ciência humana trata dos bens humanos, o que explica o fato de a
Ciência Contábil não ser classificada como ciência exata. A
contabilidade foca-se no patrimônio, mensurando-o com suas diversas
técnicas, e como o patrimônio humano sofre alterações
constantes, é ciência mutável. Por outro lado, a ciência exata
mensura verdades absolutas da natureza, calculadas, explicadas e
previstas pela física e química.
2A
Ciência Econômica tem a diretriz do consumo, demanda, oferta num
universo que sofre alterações constantes. Por exemplo, o valor do
capital de uma empresa quando aberto em ações sofre as pressões
do mercado financeiro, que por sintomas de nervosismo, desconfiança
de crédito, crise econômica, pode cair rapidamente ou ser
valorizado de um dia para outro.
3Embora
a Administração tenha funções que podem ser perfeitamente
efetuadas pela contabilidade, como por exemplo, a tomada de decisões
com base em dados quantitativos numa análise de balanço, tem um
enfoque também focado na figura do administrador e de seus
funcionários, tratando mesmo como uma arte.
4Por
fim o Direito concentra-se nos aspectos jurídicos quanto aos
direitos e obrigações advindos do patrimônio para com seus
proprietários ou envolvidos, o que varia desde funcionários e
terceiros prejudicados, como na qualidade de governo, clientes
(Direito do Consumidor), fornecedores, legislação tributária
entre outras.
5Todos
os lançamentos são agrupados nos Livros diário e Razão, conforme
a sua data de ocorrência e grupo ou classe de conta. No primeiro
livro os dados são apresentados dia a dia, com a conta de débito,
a conta de crédito e o saldo a ser transportado. No livro Razão
são agrupados aqueles lançamentos das partidas dobradas e
organizados segundo as contas, que por sua vez seguem a ordem do
plano de contas, que mais ainda, distribui as contas por diferentes
características – liquidez, exigibilidade, por exemplo – e ao
fim tem-se o resumo e resultado dos saldos e do geral das contas.
6Por
exemplo: aquisição de máquina pesada qualificada como
retroescavadeira, por uma prefeitura, para ser alocada no setor de
obras, adquirida por licitação (convite) pelo fornecedor A, pelo
valor de R$ 50.000,00, usada e com número de série tal, marca
tal, com determinado tipo de motor, funcionando com tal combustível,
paga com recursos da área e previstos no orçamento de obras. Todos
esses dados complementares são registradas pela contabilidade,
mantidos no Livro Razão e Diário e servirão de fonte para
cálculos de depreciação, valorização do ativo, diminuição do
ativo circulante u aumento do passivo circulante.
7A
contabilidade não atribui valor as coisas, apenas registra
corretamente os valores de aquisição, venda ou pagamentos e
recebimentos conforme as documentações competentes.
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