Nesta postagem continuaremos a Seção 2 da NBC TG 1000 (R1), no tópico das características qualitativas das demonstrações contábeis. Aqui apresentaremos as características que permitem ao usuário fazer comparações nos resultados e informações nos demonstrativos contábeis.
Comparabilidade1
2.11
Os usuários devem ser capazes de comparar as demonstrações
contábeis da entidade ao longo do tempo, a fim de identificar
tendências em sua posição patrimonial e financeira e no seu
desempenho. Os usuários devem, também, ser capazes de
comparar as demonstrações contábeis de diferentes entidades para
avaliar suas posições patrimoniais e financeiras, desempenhos e
fluxos de caixas relativos. Assim, a mensuração e a
apresentação dos efeitos financeiros de transações semelhantes e
outros eventos e condições devem ser feitas de modo consistente
pela entidade, ao longo dos diversos períodos, e também por
entidades diferentes. Adicionalmente, os usuários devem ser
informados das políticas contábeis empregadas na elaboração das
demonstrações contábeis, e de quaisquer mudanças nessas políticas
e dos efeitos dessas mudanças.
A
qualidade de Comparabilidade determina que as demonstrações
contábeis devem ser feitas de forma a permitir que os
usuários possam gerar informações por si mesmos ao analisarem
os dados expostos, sem no entanto, necessariamente terem vastos
conhecimentos contábeis. Disso podemos perceber a intenção do
Conselho Federal de Contabilidade em gerar relatórios mais úteis
aos usuários da informação.
Quando
a norma determina que os usuários deverão ter como analisar e
comparar os dados nos demonstrativos contábeis significa que as
informações devem ser apresentadas de forma lógica o suficiente
para que pessoas leigas possam estabelecer relações entre contas ou
grupos de contas sem necessariamente que tenham ao lado um
profissional de contabilidade para auxiliá-las.
São
destacadas as qualidades que os demonstrativos devem ter e que
deverão proporcionar ao usuário da informação: poder de
analisar possíveis tendências, situação financeira
atual e comparação entre empresas diferentes. Vamos entender
melhor na prática o que são essas qualidades que os demonstrativos
contábeis devem ter para permitir essas análises por parte dos
usuários:
1
– Permitir ao usuário comparar as
demonstrações contábeis da entidade ao longo do tempo, a fim de
identificar tendências em sua posição patrimonial e financeira e
no seu desempenho: sabemos que a
escrituração contábil deve seguir alguns princípios fundamentais,
bem como convenções e postulados, entre os quais citamos aqui o
princípio da Continuidade e a Entidade. O primeiro define que a
contabilidade considera que a empresa ou qualquer que seja o ente
contábil que tem patrimônio a ser objeto de trabalho existe hoje e
continuará existindo, por tempo de fim indeterminado.
Não
se constitui uma empresa para que ela feche num tempo determinado
logo após. Assim, partimos do pressuposto que a empresa não tem
prazo para encerrar
suas atividades e o conjunto de seu patrimônio é o que deve ser
cuidado pelas metodologias das Ciências
Contábeis de uma forma que permita mensurar, acompanhar e extrair
informações que não seriam facilmente percebidas sem dados
numéricos.
Assim,
quando a contabilidade organiza os dados em forma de Balanço
Patrimonial ou Demonstração de Fluxo de Caixa os faz seguindo
métodos que devem ser sempre mantidos, ano após ano, pois caso não
fosse feito dessa maneira, não haveria parâmetro para confrontar
dados de períodos distintos. Por exemplo, imaginemos
que uma empresa que trabalha com construções de pequenos edifícios
começou suas atividades em jundo de 2015 e encerrou o ano com lucro.
Entre se ativo não circulante constam máquinas de construção
depreciadas a 25% ao ano. Entre os passivos estão o financiamento
das mesmas máquinas, tendo a maior parte no longo prazo. No ano de
2016 a contabilidade resolveu diminuir a depreciação para 20% ao
mês e transferiu todo o saldo de financiamento de curto prazo para o
Passivo Exigível no Longo Prazo. Ao final a empresa fechou o
ano-calendário com um resultado melhor do que o anterior (lucro
maior) e seus índices demonstraram maior liquidez no curto prazo e
diminuição na queda do valor do patrimônio composto por
imobilizados.
Perguntamos:
um usuário comum dessas informações, sem grandes conhecimentos
contábeis e que tenha em mãos apenas o Balanço Patrimonial e a
Demonstração do Resultado do Exercício terá como saber que essa
aparente melhora nos resultados deveu-se não
há uma melhora operacional, mas sim apenas
em mudança de critérios
contábeis? Muito provavelmente que não. E pior, acreditará que a
empresa realmente se saiu melhor e isso poderá induzir a tomada de
decisões equivocadas para o ano seguinte, acreditando pois numa
situação financeira mais favorável e que suportaria investimentos
mais arriscados, além de que pensaria que
sua empresa está seguindo uma linha de desenvolvimento crescente, o
que não é verdade.
É
por isso que os demonstrativos e os métodos devem seguir um padrão,
uma ordem, uma sequência que não se altere dentro de cada ano e não
seja frequente de ano após ano. E mais, quando for inevitável, que
seja declarada em notas explicativas, para evitar compreensão errada
dos resultados comparados.
2
– Permitir
ao usuário ser capaz de comparar as
demonstrações contábeis de diferentes entidades para avaliar suas
posições patrimoniais e financeiras, desempenhos e fluxos de caixas
relativos: as
informações devem seguir padrões sistemáticos para que seja
possível agrupar um tipo de informação de uma demonstração
contábil de uma empresa A para o de uma empresa B. E como seria
possível fazer isso? Concordam que para comparar duas coisas é
preciso que essas duas coisas sejam iguais ou semelhantes, ou, pelo
menos, tenham pontos que tenham as mesmas características de forma a
poder sair de perspectivas subjetivas para análises mais práticas e
diretas. Vamos supor que uma empresa A
trabalha com prestação de serviços de intermediação financeira e
de seguros, pertence ao regime tributário do Lucro Presumido e
passou por um período de crise, com poucas vendas e algumas
demissões. Foram emitidos os demonstrativos Balanço Patrimonial,
Demonstração do Resultado do Exercício e Notas Explicativas. O
proprietário da empresa conseguiu buscando na internet os
demonstrativos contábeis de uma empresa do mesmo ramo, só que muito
maior. E aqui chegamos ao ponto que a qualidade de ter informações
que permitam comparações entre empresas entra em ação.
De
que adiantaria ao administrador pegar os demonstrativos contábeis de
outra empresa se ao ir comparar aos da sua os leiautes fossem
completamente diferentes? De que adiantaria o usuário pegar um saldo
de IR sobre Lucro Presumido no final da DRE e ao olhar o de outro
relatório de outra empresa a mesma conta se referir a outro evento,
ou o mesmo evento tenha uma nomenclatura muito divergente à
anterior? Pois é isso: padronizar dados e sistemáticas permite ao
usuário poder comparar os dados de uma empresa contra os de outra e
principalmente, poder tomar os resultados de uma empresa gigante como
modelo – é claro, ajustando nas devidas proporções – e assim
saber onde a sua tem pontos fortes e fracos e poder tomar decisões
para
corrigir tais gargalos.
3
– Adicionalmente, os demonstrativos contábeis devem informar aos
usuários sobre as políticas contábeis empregadas na elaboração
das demonstrações contábeis, e de quaisquer mudanças nessas
políticas e dos efeitos dessas mudanças: não
há muito mais o que acrescentar aqui, pois o texto é bem claro: diz
respeito a formar demonstrativos o mais autoexplicativos possíveis,
de forma que os usuários entendam os seus dados e caso queiram,
possam refazer os cálculos e chegar nos mesmos resultados.
Basicamente
é o que já escrevi no primeiro item: para que a contabilidade possa
gerar relatórios que sirvam para definir parâmetros de vários
períodos ou tendências de comportamentos das empresas é preciso
que o usuário saiba do que se trata. Para isso existem os relatórios
complementares das demonstrações contábeis. Na época em que eu
estava desenvolvendo o meu TCC da pós-graduação corri atrás de
demonstrativos contábeis de empresas de capital aberto (justamente
por terem os relatórios mais completos) e muitas vezes recorria aos
citados relatórios complementares para poder refazer os cálculos de
financiamentos e de tachas de juros, além
das próprias Notas Explicativas. Era nesses relatórios que
conseguia entender plenamente (ou o máximo possível) pontos
relevantes e escondidos nos saldos do Balanço Patrimonial e na
Demonstração do Resultado do Exercício. Quer um exemplo claro:
pegue na internet os Balanços Patrimoniais e as Demonstrações do
Resultado do Exercício de uma única empresa S/A ao longo de uns dez
anos. É inevitável que, pelo menos, uma vez verifique que os saldos
de um período não baterão com o do seguinte (exemplo: relatório
conjunto dos anos de 2006, 2007 e 2008 e depois o relatório, no
mesmo formato, para os anos de 2008, 2009 e 2010). Os saldos do ano X
não batem 100% com os do ano X elaborados no ano X+1.
1Palavras-chave:
os relatórios devem ter informações padronizadas e detalhadas de
forma a permitir que o usuário possa calcular relações e
comparações por si mesmo.
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