Nesta postagem continuaremos a Seção 2 da NBC TG 1000 (R1), no tópico das características qualitativas das demonstrações contábeis. Aqui apresentaremos a importância de as demonstrações contábeis registrarem os movimentos e fatos financeiros, econômicos de forma imediata.
Tempestividade1
2.12
Para ser relevante, a informação contábil deve ser capaz de
influenciar as decisões econômicas dos usuários.
Tempestividade envolve oferecer a informação dentro do tempo de
execução da decisão. Se houver atraso injustificado na divulgação
da informação, ela pode perder sua relevância. A administração
precisa ponderar da necessidade da elaboração dos relatórios em
época oportuna, com a necessidade de oferecer informações
confiáveis. Ao atingir-se um equilíbrio entre relevância e
confiabilidade, a principal consideração será como melhor
satisfazer as necessidades dos usuários ao tomar decisões
econômicas.
Os
relatórios contábeis são o meio da empresa obter informação
financeira, econômica e patrimonial confiável para a tomada de
decisões em todos os momentos, mas é claro, principalmente antes de
momentos cruciais. Para tanto, a Contabilidade deve elaborar os
informativos contábeis registrando em tempo todas as movimentações.
Isso é a tempestividade expressa na NBC TG 100 (R1), que determina
que as informações sejam atuais.
Se
irmos um pouco atrás, na Teoria da Contabilidade, encontraremos lá
nos princípios, postulados e convenções que a Contabilidade deve
seguir um tal Regime de Competência e para confundir mais um pouco a
memória, o referido regime tem um lado oposto, o Regime de Caixa. O
primeiro tipo (por competência) determina que as receitas devem ser
registradas na data em que ocorrem e os custos e despesas na data de
suas inocorrências. A princípio podem parecer a mesma coisa, mas
não o são. No regime de caixa As receitas são reconhecidas como
sendo receitas (entradas por faturamentos que aumentam o caixa e são
das contas de resultados) mão quando efetivamente entram em caixa,
mas quando já se tem operação que dá à empresa o direito de
receber algo de clientes por um serviço ou algo vendido. Já os
custos e despesas são reconhecidos como custos e despesas quando se
há o sacrifício de algum ativo, sem que necessariamente venha a
sair dinheiro do caixa. Vamos a alguns exemplos:
Provisão
para o pagamento de salários de funcionários, sendo: salários a
pagar de R$ 15.000,00, Pró-labore de R$ 5.000,00, INSS sobre
salários de 8%, INSS sobre pró-labore de 11%, FGTS de 8%, descontos
de adiantamento salarial de R$ 6.000,00. Como contabilizar
corretamente, lembrando que usamos o Regime de Competência?
Resolução:
Provisão
dos salários a pagar: débito de R$ 15.000,00 em Despesa / custo
com salários e crédito em salários a pagar = isso gera um custo
que vai diminuir o resultado, mas já é reconhecido no período em
que os funcionários trabalharam, embora só seja pago no mês
seguinte. O que ocorre: o funcionário trabalha no mês de janeiro
inteiro, mas não recebe no mês de janeiro, havendo na verdade o
reconhecimento da empresa em pagar o salário para o mês de
fevereiro.
Provisão
do Pró-labore a pagar: débito de R$ 5.000,00 em despesa com
pró-labore e crédito em pró-labore a pagar = isso gera o custo que
vai diminuir o resultado, mas o sócio ou proprietário não recebe a
sua retirada, o seu “salário” no mês em que é contabilizado,
mas sim, no mês seguinte.
Agora
vamos calcular o INSS e o FGTS, que são os mesmos: 8% para cada um.
Provisão
do INSS: Débito de 8% de R$ 15.000,00 (R$
1.200,00) em salários a pagar e crédito em INSS a recolher. Com
isso, no mês em que o funcionário trabalhou é reconhecido que do
rendimento de salário há a obrigação de se recolher (descontar) o
INSS. Isso diminui o salário a pagar e aumenta um passivo para com a
Previdência Social.
Provisão
do FGTS: débito dos mesmos R$ 1.200,00 em custos / despesas com
encargos sociais de FGTS e crédito em FGTS a recolher. Isso gera um
aumento de custo com FGTS que vai, por sua vez, diminuir o resultado,
e um passivo para com o Ministério do Trabalho.
Provisão
do INSS sobre pró-labore: débito de 11% de R$ 5.000,00 (R$
550,00) em despesa com pró-labore e crédito em pró-labore a pagar.
Isso aumenta as despesas e consequentemente, diminui o resultado.
Adiantamento
salarial: débito de R$ 6.000,00 em salários a pagar, para
diminuir o passivo a ser pago no mês seguinte e crédito em
adiantamento salarial, uma conta do ativo circulante. Vale lembrar
que durante o começo da segunda metade do mês as empresas costumam
pagar adiantamentos de salários (popularmente chamados de vales)
para dar aquela força para o sujeito aguentar chegar até o próximo
pagamento. Quando o funcionário recebe esse adiantamento de salário
o valor a pagar (dívida) da empresa para com o seu empregado diminui
– pois já pagou uma parte – e é registrado no ativo, pois
representa um direito da empresa em poder descontar quando da
provisão para o mês seguinte.
Mas
o que esse rodeio todo tem em relação à tempestividade? Tudo. Mas
antes de responder, vamos ao resultado dos lançamentos: salários a
pagar ficaram em R$ 7.800,00, pró-labore a pagar em R$ 4.450,00, com
R$ 1.200,00 de FGTS e R$ 1.750,00 de INSS Total no lado do Balanço
Patrimonial e; R$ 15.000,00 de custos com salários e R$ 5.000,00 de
despesa com pró-labore na Demonstração do Resultado do Exercício.
Agora
sim, voltando a tempestividade. A tempestividade é então essa
qualidade (sendo que está mais para obrigação de qualidade) dos
relatórios contábeis em mostrar as informações na data em que têm
origem. Inicialmente falamos que há dois regimes em contabilidade:
o da competência e o de caixa,.descrevemos que o de competência
registra os eventos quando ocorrem, independentemente se são
recebidos ou desembolsados valores monetários. Disso destacamos que
os exemplos de cálculos de folha de pagamentos são desse regime.
Caso
a empresa trabalhe com o regime de caixa, as receitas só seriam
consideradas e contabilizadas pela escrituração como receitas
efetivas quando fossem recebidas em caixa ou banco, ao passo que as
despesas e custos quando houvesse saída de recursos para seus
pagamentos.
Vale
frisar que as empresas são obrigadas a adotar o regime de
competência pois as obrigações que atacam as organizações
atualmente são deste regime. Por exemplo, a empresa vendeu
mercadorias e calculou o seu faturamento. E o que a receita e fazenda
fazem? Exigem que as empresas prestem contas e calculem as guias dos
impostos, taxas e contribuições, que tem seus pagamentos no mês
subsequente ao evento que deu origem. Por exemplo, o Simples Nacional
é levantado dentro do mês com base em tudo o que se vendeu, é
gerada a guia (Documento de Arrecadação de Receitas Federais –
DAS) para o pagamento no mês seguinte, até o dia 20.
Apenas
na Contabilidade Pública em que o Regime é diferenciado: as
receitas são reconhecidas no momento em que entram em caixa (regime
de caixa) e os custos e despesas no momento em que incorrem (de
competência).
Mas
voltando a mencionar a qualidade da tempestividade, pensemos: de que
valeria registrar um evento (como a aquisição de um ativo) dez
meses após a sua compra e uso.? Isso derribaria o cálculo da
depreciação. De que adiantaria escriturar a folha de pagamento sem
o reconhecimento dos montantes a serem pagos de salários para o mês
seguinte? Essas provisões exigem para que a empresa possa se
programar financeiramente, isto é, saber o quanto se terá que
gastar permite guardar o recurso ou trabalhar na medida para que esse
valor seja obtido para honrar suas obrigações.
Nesse
ponto podemos entender que a norma NBC TG 1000 (R1) frisa num ponto
que serve para ajudar na tomada de decisões e de como ter uma visão
gerencial e analítica da empresa, coisa que seria impossível sem os
registros ou provisões.
1Os
registros das despesas e receitas devem ocorrer imediatamente ao
momento em que os eventos que lhe dão origem ocorrem, ou pelo
menos, o mais rápido possível, para se eliminar o risco de cair no
esquecimento ous e registrar em datas erradas, modificando a
situação patrimonial da empresa.
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