Geralmente
quando uma pessoa vai montar uma planilha eletrônica ou pede para
que alguém faça um trabalho desse tipo diz algo do tipo: “Manda
pra mim o controle em Excel para eu conferir” ou “vou resolver o
exercício no Excel”. Ficou algo tão enraizado na cultura de
softwares de escritório que Excel virou sinônimo de planilha
eletrônica. Ter conhecimento neste programa virou pré-requisito
mínimo para se trabalhar em escritório. Certo, tudo bem, mas o
Excel não é a única ferramente para se montar planilhas
eletrônicas e é certeza de que muitos dos empregadores que exigem
tal aplicativo, bem como as universidades desconhecem as opções
disponíveis no mercado tecnológico, tão ou mais completas. Estamos
falando aqui do LibreOffice.
Neste
trabalho apresentaremos aquilo que consideramos melhor alternativa ao
Microsoft Office Excel: o LibreOffice Calc. Mostraremos aqui o seu
vasto leque de funcionalidades, semelhanças ao programa da
Microsoft, pontos fortes e fracos1.
O
LibreOffice é um conjunto de aplicações de produtividade para
escritório, que inclui editores de textos (Writer), planilhas
eletrônicas (Calc), criador e gerenciador de banco de dados (Base) e
de edição e criação de slides (Impress) para apresentações,
além de complementos para inserção de fórmulas matemáticas
(Math) e de desenho vetorial (Draw). Mas diferentemente da suíte da
Microsoft, são regidos por uma licença de uso livre, ou seja,
qualquer um pode explorar o seu código fonte, baixar, usar e
distribuir gratuita e livremente sem pagar qualquer taxa ou
royalties.
O
LibreOffice Calc – objeto de nosso estudo no momento – é uma
poderosa ferramenta de planilhas eletrônicas, tão completa que nele
podemos facilmente criar documentos, editar, salvar e migrar os
documentos feitos em outros softwares, como o Microsoft Excel, mas
perdendo pequenas formatações ou funções muito específicas2.
Então
o que se deve fazer é deixar de usar o Microsoft Excel por ser pago
e migrar de vez para o LibreOffice Calc? Não. Vamos ponderar as
coisas: as pessoas levaram um tempo para se familiarizar ao programa,
foram treinadas nele e sabem mexer apenas com ele. Não seria fácil
de repente matar todo esse convívio e mudar violentamente para outro
sistema, mesmo este tendo funções que seguem as mesmas lógicas.
É
claro que as pessoas podem aprender (até porque não é como
aprender a andar novamente após um acidente) mas depende de empenho
e vontade do usuário em se adaptar. E como dá para perceber, numa
empresa não se pode simplesmente parar toda a produção num
formato, ficar parada um tempo para se aprender e depois começar em
outro. É melhor manter os dois sistemas e paulatinamente diminuir o
uso em um e começar a explorar as funcionalidades e particularidades
do outro. Toda migração de software tem que ser feita com testes
incessantes e analise critica, pois nem tudo que é suportado em uma
ferramenta tem suporte em outra.
Para
os usuários mais básicos – que só sabem inserir textos, formatar
e usar as fórmulas de elementares de adição, subtração,
multiplicação e divisão, além de Se e SOMA) - é possível e
altamente fácil encontrar todas as funcionalidades e funções que
se utilizava no Microsoft Excel. Logo, uma migração apenas vai
depender de o usuário se adaptar à aparência do LibreOffice Calc.
É só uma questão de tempo para acostumar com a “nova interface
feia e antiquada”3.
A
seguir vemos um comparativo entre as áreas de trabalho do Microsoft
Excel 2007 para LibreOffice Calc 5.1. Nota-se que há pouca ou quase
nenhuma diferença entre funções, estando mesmo o “problema” de
uma migração é mais unicamente por questão de aparência do que
por produtividade ou funcionalidades para o uso no dia a dia.
A
seguir apresentamos das caixas de diálogo para inserir uma função,
o meio automático para acrescentar funcionalidades sem ter que ter
decoradas as sintaxes das suas fórmulas. Basta ao usuário saber a
lógica de cada função que não vai se perder aqui, até porque as
fórmulas são as mesmas.
É
muito provável que os usuários intermediários venham a sentir
falta de algumas funcionalidades mais específicas que antes usavam
no Excel mas que não rodam direito no Calc, ainda que haja opções
para realizar a mesma tarefa. Por exemplo, se um usuário tem uma
planilha muito bem estruturada repleta de macros e durante um
processo de migração acaba se decepcionando ao ver que estas não
funcionam adequadamente no Calc. Disso o indivíduo já sai por aí
reclamando e atacando o programa, dizendo que o MS Office é
superior. Agora, podemos dizer que o Excel é superior, por conseguir
abrir macros (criadas nele mesmo e para ele apenas)? É claro eu não!
O ideal seria manter as duas suítes de escritório e criar planilhas
novas em ODS já com as suas próprias macros. Mas para isso o
usuário precisaria aprender a criar esses programinhas no Calc.
E
agora vamos finalmente ao x da questão: O que o LibreOffice tem que
o Microsoft Office não tem:
-
Suporte Multiplataforma: A suíte completa está disponível para vários sistemas operacionais e variações, diferente do Microsoft Office que tem versões para Windows e uma versão diferenciada para Mac OS X. Por exemplo, muitos usuários não usam distribuições Linux porque não podem usar o MS Office, ao passo que o LibreOffice funciona em todos os sistemas citados da mesma forma e de graça. Há um programa para escritório que é gratuito e multiplataforma, chamado Calima. Tem aplicação para escrita fiscal, contabilidade e folha de pagamento e é gratuito NA VERSÃO PARA WINDOWS, já para quem usa Mac OS e distribuições Linux tem que contratar o suporte, que guiará no download, instalação e configuração do programa nesses sistemas operacionais. Ou seja, não é 100% gratuito e o mesmo programa não é multiplataforma. Ainda quanto o MS Office, há versões para estudantes, empresários, corporativos, iniciantes, ecada um com uma quantidade de programas diferente e com um preço diferente (logicamente, as mais completas são mais caras). Em contrapartida o LibreOffice é completo em todas as versões e gratuito, independente do sistema a ser usado.
-
Suporte para todas versões do Windows: A suíte mais atualizada do Microsoft Office é a versão 2016 e está disponível apenas para sucessores do Windows 7. quem usa, por exemplo, um Windows XP (que não deveria haver mais) não pode usar aquela versão do MS Office 2016 que adquiriu por meros R$ 1.600,00 (ou baixou ilegalmente). Já o LibreOffice 5.1.6 vai funcionar perfeitamente, tanto faz se é no Windows XP, Vista, 8, 8.1, 10, Ubuntu 14.04, Ubuntu 16.10 etc.
-
Disponível para sistemas de versões 64 bits e 32 bits; ou seja, para usuários que têm sistemas muito fracos e antigos, em computadores totalmente defasados, bem como os que usam as máquinas mais modernas, todos terão como rodar o LibreOffice.
-
Código aberto; A cultura do software de código aberto garante diversas vantagens em relação a softwares proprietários. Por exemplo, sendo o código aberto, se daqui a algumas décadas o usuário precisar abrir um determinado arquivo de hoje poderá fazer, bastando ter o programa ou um programador que estudará o código fonte e adaptará algum software para o carregamento. Para arquivos como XLSX do Excel a única garantia que o programa funcionará é que a empresa desenvolvedora (a Microsoft) manterá programas que lerão o arquivo, coisa que no contrário vimos que não funciona: abrir planilha de MS Office 2010 num MS Office 2003).
-
Ecossistema de extensões com atualizações para novas versões; ao passo que para atualizar o MS Office tem que adquirir a licença para uma nova versão (MS Office 2003 não pode ser atualizado para MS Office 2007, 2010, 2013 ou 2016, só comprando tudo novamente)
-
Disponível em 111 idiomas; Contra 60 idiomas para do Microsoft Office. Ou seja, 51 programas a mais, quase o dobro.
-
Ampla galeria de clipart que podem ser integrados ao aplicativo. Veja em https://openclipart.org/; o que aumenta a sua gama de funcionalidades e modelos para facilitar no trabalho e na criação de documentos profissionais
-
Amplo suporte a linguagens para criação de Macros (LibreOffice Basic, JavaScript, BeanShell and Python); Contra o VBA da Microsoft e para automação Visual Basic e C#.
-
Suporte ao protocolo CMIS para acessar gerenciadores de documentos (Alfresco, Google Drive, Nuxeo, MS SharePoint, MS OneDrive, IBM FileNet Lotus Live Files, Lotus Quickr Domino, OpenDataSpace and OpenText ELS); O Microsoft Office suporta o MS Sharepoint e MS OneDrive.
-
Suporte ao formato de arquivos da ISO para documentos (ODT);
-
Múltiplas opções para exportação de PDF; que vai muito além ao MS Office.
-
Criação de PDF Hibrido;
-
Importação de gráficos SVG, PSD (Photoshop) e CDR (Corel Draw);
-
Suporte para incorporação de diversos formatos de áudio e vídeo (FLAC, FLV, MKV, OGG, OGV, MOV, WEBM, RA, RM, DV, AC3 e OPUS);
-
Suporte para imagens DXF, MET, PBM, PCD, PCX, PGM, PPM, PPM, RAS, SGF, SVM, TGA, XBM, XPM;
-
Suporte a palheta de cores Gimp (.gpl), Adobe Swatch Exchange (.ase), LibreOffice/Apache OpenOffice (.soc).
A
seguir apresentamos as caixas de diálogo para personalização de
cor, tanto no MS Office Excel quanto no LibreOffice Calc. Notar mais
uma vez que as funcionalidades são as mesmas nos dois programas,
tanto o pago proprietário quanto o gratuito e livre:
Na
figura a seguir apresentamos suas funções de gerar arquivos em
outros formatos, como o de PDF, bem mais avançada que a opção de
salvar como do MS Office 2010, 2013 e 2016 e muito superior ao da
versão 2007, que nem sequer tinha tal funcionalidade.
E
se compararmos apenas o Microsoft Excel contra o LibreOffice Calc,
qual teria mais funcionalidades? Qual consegue se integrar melhor às
funções do outro? Qual tem mais funções únicas? Vamos á relação
detalhada:
-
469 funções, sendo 22 únicas no Calc;
-
461 funções do Microsoft Excel, sendo 14 únicas.
-
Estilos de páginas;
-
Corretor ortográfico integrado;
-
Exportação para XHML;
-
Padrões OpenFormula;
-
O número máximo de linhas por planilha é: 1.048.576
-
No Microsoft Excel também é 1.048.576, porém em modo de compatibilidade esse número cai para 65.536.
-
Exportação flexível para CSV;
-
Visualização de uma planilha clonada numa nova janela;
-
Suporte para formatos legados do DOS/Windows: Lotus 1-2-3, Quattro Pro (v1-5.5 DOS; v6.0 Windows), Microsoft Works spreadsheet;
-
Suporte para formatos legados do MacOS: BeagleWorks, ClarisWorks, Claris Resolve, GreatWorks, MacWorks, Wingz;
-
Importação e Exportação para formato Poket Excel;
-
Rotação dos títulos dos gráficos;
-
Formatação condicional para cor e borda para gráficos;
-
Diversas formatações de células.
Mas
como nem tudo são flores e como muitos usuários percebem (e por
isso reclamam), há funcionalidades do software proprietário da
Microsoft que não são completamente suportadas pelo LibreOffice.
Entre as quais temos os que não são suportados:
-
16.384 colunas no Microsoft Excel (256 no modo de compatibilidade); 1024 colunas do LibreOffice Calc.
-
Inserir um gráfico no cabeçalho ou rodapé;
-
Diagramas interativos;
-
Comparação entre tabelas, baseada nas informações de cada uma delas;
-
Exportação de XML genéricos;
-
Localizar e substituir avançado;
-
Maiores combinações de teclas de atalho;
-
Edição e recursos avançados para gráficos;
-
Copiar somente células visíveis;
E
os que são parcialmente suportados:
-
Suporte avançado ao padrão OOXML (desenvolvido pela Microsoft);
-
O LibreOffice é capaz de abrir, editar e salvar nesse formato, porém com as especificações padronizadas.
-
Programa de e-mail;
-
Microsoft Outlook.
-
Exportação e edição online de documentos;
-
Interface diferenciada para vários tipos de telas (não redesenhada, apenas adaptada).
Então
é isso. Esse foi um resumo do que o Calc pode fazer e o que ele pode
fazer com dificuldade. Mas nada que o estrague, muito pelo contrário.
1O
presente texto é uma adaptação ao artigo de Willian Oliveira
(Formado em Redes de computadores) e publicado pela Revista
LibreOffice Magazine, edição n° 21, de fevereiro de 2016 e que
por sua vez, foi embasado nos textos da The Document Foundation,
disponível em
https://wiki.documentfoundation.org/Feature_Comparison:_LibreOffice_-_Microsoft_Office
e
https://wiki.documentfoundation.org/Feature_Comparison:_LibreOffice_3.6_-_Microsoft_Office_2010/pt-br.
2O
problema não está numa incapacidade do LibreOffice em abrir os
documentos do MS Office mas sim, na incompatibilidade com
ferramentas criadas num formato proprietário da Microsoft, que
impede que copie. Trata-se assim de falta de padronização entre os
formatos de arquivos. O formato docx é feito pela empresa
estado-unidense para rodar apenas em programas dela mesma, bem
oposto ao odt, que é libre e roda em qualquer programa leitor de
formatos abertos, pois segue um padrão comum. Para se ter uma ideia
da falta de padronização entre formatos, um documento de texto com
extensão docx não funciona numa versão do Microsoft Word anterior
à criação do referido docx, frisando que as várias versões do
Word são da mesma empresa.
3Mesmo
sabendo que uma coisa ser feia ou antiquada é puramente questão de
gosto. E pior, no LibreOffice tem-se a possibilidade de modificar
ícones, posicionamento de barras de ferramentas e até o plano de
fundo do aplicativo, bastando ir ao menu Ferramentas > Opções >
Exibir > Temas decorativos.
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